quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Tributo e Honra


“A quem tributo,tributo… a quem honra,honra” Paulo.
(Romanos, 13:7)
Carlos Alberto Braga Costa
Neste 2010 de tantas festividades, como as do aniversário de 50 anos de Brasília, e do Centenário de Chico Xavier, humildemente desejamos prestar um preito de carinho e gratidão ao inesquecível Apóstolo do Brasil, o Padre Manoel da Nóbrega, ao ensejo dos 440 anos de sua desencarnação.
Manoel da Nóbrega foi sem dúvida um grande evangelista do Brasil e merece tributo e honra. O Homem de Deus, na definição do historiador Serafim Leite,Manoel da Nóbrega foi uma das mais importantes encarnações do venerando Emmanuel, guia espiritual de Francisco Cândido Xavier.
Esta revelação sobre Manoel da Nóbrega, regada de humildade, fê-la o próprio Emmanuel em mensagem recebida por Chico Xavier em 12 de janeiro de 1949. O inesquecível Clóvis Tavares divulga-a no belo livro Amor e sabedoria de Emmanuel ¹, escrito com o objetivo de mostrar aos estudiosos da Doutrina Espírita o árduo e transcendente caminho de auto-iluminação percorrido por esse valoroso Espírito. Vejamo-la:
“O trabalho de cristianização do Brasil, irradiando sob novos aspectos, não é novidade para nós.
“Eu havia abandonado o corpo físico em dolorosos compromissos, no século VX, na Península, onde nos devotávamos ao “crê ou morre”, quando compreendi a grandeza do País que nos acolhe agora. Tinha meu espírito entediado de mandar e querer sem o Cristo. As experiências do dinheiro e da autoridade me haviam deixado a alma em profunda exaustão. Quinze séculos haviam decorrido sem que eu pudesse imolar-me por amor do Cordeiro Divino, como o fizera, um dia, em Roma, a companheira do coração ².
“Vi a floresta a perder-se de vista e patrimônio extenso entregue ao desperdício, exigindo o retorno à humanidade civilizada e, entendendo, as dificuldades do silvícola relegado à própria sorte, nos azares e aventuras da terra dadivosa que parecia sem fim, aceitei a sotaina, de novo e por Padre Nóbrega conheci, de perto, as angústias dos simples e as aflições dos degredados. Intentava o sacrifício pessoal para esquecer o fastígio mundano e o desencanto de mim mesmo, todavia, quis o Senhor que, desde então, o serviço americano e, muito particularmente, o serviço ao Brasil não me saísse do coração.
“A tarefa evangelizadora continua. A permuta de nomes não importa.”
Como se infere da leitura, Emmanuel, após encarnação como clérigo, em que se envolvera com a Inquisição, é levado a contemplar a “floresta a perder-se de vista” e sentir  “as dificuldades do silvícola” do nosso imenso Brasil,para aceitar novo mergulho na carne,quando receberia o nome de Manoel da Nóbrega.
Naquele período do Brasil – colônia, já com a sotaina de jesuíta,enfrentou todas as dificuldades para auxiliar na implantação do Evangelho no coração dos homens que por ali viviam,legando grande folha de serviço ao movimento de colonização das terras de Santa Cruz.
Nascido em Entre- Douro-e- Minho, Portugal, a 18 de outubro de 1517, aos tempos de Rei Dom Manuel, o venturoso, Manoel da Nóbrega estudou nas Universidades de Salamanca e Coimbra, bacharelando-se em direito canônico e filosofia na de Coimbra em 1541, sendo ordenado pela Companhia de Jesus em 1544.
Cinco anos depois recebeu o mandato que veio marcar sua trajetória espiritual. Após exaustivo preparo nas escolas lusitanas, recebeu de Dom João III a responsabilidade de seguir Tomé de Souza na direção do Novo Mundo.
Trazendo estes importantes vultos da história brasileira, as naus portuguesas atracaram no Brasil em março de 1549, para que eles, em missão administrativa, política e religiosa participassem, como marco inicial, da fundação de Salvador, na Bahia.
Considerado por Simão de Vasconcelos ³, o Primeiro Apóstolo do Brasil, o padre Manoel da Nóbrega lutou sem reservas na conversão do gentio e na pacificação dos colonizadores. O seu amor e abnegação na causa do Evangelho repercutiram uma autoridade singular, não só nas Terras de Santa Cruz, como também em países portenhos, tendo suas virtudes singrado os mares bravios na direção do velho mundo europeu.
“Bom jurista, administrador de energia e clarividência, e homem de Deus”4 Manoel da Nóbrega tornou-se conselheiro de Mem de Sá na luta contra os franceses, estimulou a conquista do interior do país, transpondo a Serra do mar, adquiriu respeito pelas constantes viagens pela costa brasileira, de São Vicente a Pernambuco. Ao lado de Estácio de Sá, participou da fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, onde veio a desencarnar no dia 18 de outubro de 1570, quando completava exatos 53 anos de idade.
Vale recordar a importante presença de Paulo de Tarso na caminhada de Manoel da Nóbrega, auxiliando-o na árdua tarefa de vencer as inibições físicas, como a doença nos pulmões, a dificuldade em discursar, por ser gago, e a força mediúnica necessária para o desiderato de formar corações e mentes voltadas para o bem.
Como afirmara o Espírito Emmanuel para alguns amigos, em reunião particular na cidade de Pedro Leopoldo, o apóstolo Paulo houvera-se comprometido, no Mundo Espiritual, a auxiliar as grandes inteligências afastadas do Cristo. Por esta razão o Convertido de damasco assumiu o compromisso de acompanhar a colonização do Brasil, inspirando o padre Manoel da Nóbrega a fundar a maior cidade da América do Sul, dando a ela, como sinal de reconhecimento e devoção, o nome de São Paulo, o Amigo da Gentilidade.
A influência espiritual de Paulo de tarso sobre Manoel da Nóbrega é ressaltada por Chico Xavier no discurso que reproduzimos parcialmente, pronunciado na solenidade em que recebeu o título de cidadão paulistano no Ginásio Municipal do Pacaembu, São Paulo, em 30 de agosto de 1972.
(…) “Queridos amigos de São Paulo, de início, desejo fixar a minha imensa gratidão pelo acolhimento da augusta Câmara Municipal de São Paulo à nossa presença humilde, a generosidade da comunidade paulistana, comparecendo a esta solenidade e a saudação imerecida por mim (…)
“Ao ensejo, rogo-vos permissão para reportar-nos, ainda que superficialmente, aos seus fundamentos místicos: conta-se que ao celebrar a primeira missa, na manhã de 29 de agosto de 1553, no alto do Ianambussu do Sul, hoje o Pátio do Colégio, nesta Capital, o eminente padre Dr. Manoel da Nóbrega, fundador de São Paulo, considerada, hoje, a cidade mais importante do hemisfério sul do Planeta, foi visitado pelo apóstolo São Paulo que lhe apareceu nimbado de intensa luz; redivivo, o amigo da gentilidade apontou-lhe as campinas circunjacentes e lhe pediu que fundasse no planalto piratiningano uma cidade em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que estabelecesse sobre as quatro colunas básicas do Cristianismo: amor, fé, trabalho e instrução. Desde esse dia, entre Tamanduateí e o Anhangabaú, Padre Nóbrega dá-se pressa na fundação do real Colégio de Piratininga, distribui cargos e responsabilidades, entregando, ao inesquecível e nobre José de Anchieta, o magistério no setor das humanidades.
“Nóbrega, impressionado,pensa e pensa,recorda o encontro de Nosso Senhor Jesus Cristo com o mesmo apóstolo São Paulo, às portas de Damasco, e delibera inaugurar as obras do Real Colégio de Piratininga na data da conversão do apóstolo, 25 de janeiro, o que sucede a 25 de janeiro de 1554, com o estabelecimento definitivo da grande instituição.
“Lembrando, ainda, a revelação de que fora objeto, entrega o ofício da missa ao reverendo padre Manoel de Paiva; solicita de Anchieta fosse ele o acólito na grande solenidade e ele mesmo ora e espera visões novas, buscando ganhar forças para trabalhar incessantemente na grande fundação”.
Dentre as realizações do Benfeitor do Brasil, nos áureos tempos da colonização brasileira, lembramos as cartas informativas sobre o Brasil escritas na Bahia em 1549, e o Diálogo sobre a Conversão do Gentio, de 1554, o primeiro livro escrito no Brasil, consoante afirma Antonio Soares Amora em sua História da Literatura Brasileira. Obras como o Caso de Consciência sobre a Liberdade dos Índios, de 1567,Informação da Terra do Brasil de 1549, Informação das coisas da Terra eNecessidade que há para Bem Proceder Nela, de 1558, e o Tratado Contra a Antropofagia, de 1559, retratam um pouco da vida deste grande homem.
Apoiados em informações recolhidas pelo nosso querido Arnaldo Rocha junto ao médium Chico Xavier, o Benfeitor se apresentou para Chico em 1931, como nomeEmmanuel por um motivo muito justo: agradecer aos Benfeitores Espirituais pela belíssima oportunidade de trabalhar no Brasil e pelo Brasil, no século XVI, retornando no século XX para iniciar novo empreendimento com Jesus, através do Espiritismo Evangélico.
Interessante notar que, nas assinaturas, em lugar de padre Manoel, aparece a assinatura Ermano, abreviada, como se vê na assinatura “E. Manoel”.
Manoel da Nóbrega preferia a designação de ermano, como escreve o biógrafo José de Anchieta, pois os índios tinham imensa dificuldade de pronunciar o vocábulo padre, e o foco da atenção do evangelista eram estes novos “gentios”, os indígenas. No caso ,a palavra irmão aproximava-o não só pela designação,mas acima de tudo pelo coração.
Maestria e nobreza no ensino e difusão da mensagem do Consolador Prometido por Jesus, eis o Espiritismo na sua feição evangélica, a caracterizar o retorno do venerando Manoel da Nóbrega, agora na figura de Emmanuel.
1-Clóvis Tavares, Amor e Sabedoria de Emmanuel. Edit.IDE. 7ª edição 1987
2-Referência a Lívia, esposa do senador Públio Lentulus. Em Há Dois Mil Anos. FEB
3-Crônicas da Companhia de Jesus, IV, págs. 137,138.
4-Serafim Leite, S.I, “Histórias da Companhia de Jesus no Brasil. Instituto Nacional do Livro, Rio, vol.IX, pag.3.

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