Mais uma edição da revista O Cruzeiro obtida por
Vital Cruvinel. Nesta edição foi oferecido um prêmio em dinheiro para
que se repetisse apenas mais uma vez o fenômeno da materialização, só
que dessa vez em condições estipuladas de comum acordo. Revela-se
também um verdadeiro absurdo alegado pelos espíritas: de que os
repórteres teriam rasgado as roupas de Otília.
“O CRUZEIRO” LANÇA
REPTO DE HONRA
A UMA EQUIPE DE MÉDICOS
Nossos leitores, que
têm acompanhado a série de reportagens que vimos publicando sôbre os
chamados “fenômenos de materialização de espíritos” em Uberaba, podem
testemunhar a seriedade com que tratamos o assunto. Tivemos, em tudo o
que aqui foi escrito, a intenção de transmitir ao leitor uma informação o
mais possível completa sôbre os fatos. Não desejamos, em nenhum
momento, pôr em dúvida a convicção religiosa de quem quer que fôsse.
Procuramos, isso sim, comprovar uma farsa. Agora, numa demonstração
definitiva da isenção de ânimo que nos move, “O Cruzeiro” lança um repto
de honra à equipe de médicos que afirma ter realizado sessões de
materialização de espíritos na cidade de Uberaba, Minas Gerais.
REPTADORA – A revista “O Cruzeiro”, com sede na cidade do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, à Rua do Livramento, 189.
REPTADOS – Os 19 médicos a seguir mencionados:
1 – Dr. Adroaldo
Modesto Gil; 2 – Dr. Eurípedes Tahan Vieira; 3 – Dr. Elias Barbosa; 4 –
Dr. José Hortêncio de Medeiros Sobrinho; 5 – Dr. Elias Boianain; 6 – Dr.
Oswaldo Castro; 7 – Dr. Gil Perche de Menezes; 8 – Dr. Alberto Calvo; 9
– Dr. José Américo Junqueira de Matos; 10 – Dr. Sebastião Mello; 11 –
Dr. Ismael Ferreira de Resende; 12 – Dr. Milton Skaff; 13 – Dr. Adelror
Alves de Gouveia; 14 – Dr. Cleomar Borges de Oliveira; 15 – Dr. Armando
Valente do Couto; 16 – Dr. Flávio Pinheiro; 17 – Dr. Mário da Silva; 18 –
Dr. Antônio Ferreira da Silva: 19 – Dr. Waldo Vieira.
TERMOS DO REPTO
CONSIDERANDO:
a) que os reptados afirmam, categoricamente, que observaram e comprovaram “materializações de espíritos”, fenômeno a que chamam “ectoplasmia”, em experimentações por eles realizadas na cidade de Uberaba (“A
aceitação do fenômeno da materialização é problema equacionado para a
equipe, havendo provas de autenticidade que ainda não foram divulgadas…”
– Réplica à revista “O Cruzeiro”, Considerações Finais, ítem 4);
b)
que os reptados afirmam, categoricamente, que na noite de 3 de janeiro
de 1964, em presença dos Repórteres e Fotógrafos José Franco, Mário de
Moraes, Nilo de Oliveira, Henri Ballot, Jorge Audi, José Nicolau, todos
da revista “O Cruzeiro” e a serviço desta, ocorreu o dito fenômeno, com a
“materialização” das entidades Irmã Josefa e Dr. Veloso, naquela cidade de Uberaba, no consultório do Dr. Waldo Vieira;
c)
que os reptados afirmam, em Réplica dirigida a “O Cruzeiro”, que os
repórteres da Revista, acima mencionados, falsearam os fatos, incorreram
em contradições, agiram de má-fé;
d)
que os reptados afirmam, na citada Réplica, que a própria Revista
retocou fotos para exagerar semelhanças entre a “entidade materializada”
e a sensitiva Otília Diogo (embora, ao mesmo tempo, aleguem que essas
semelhanças são comuns em tais fenômenos),
— a revista “O Cruzeiro” repta os médicos acima relacionados a:
1º
ajustarem com a Direção da Revista as medidas consideradas
indispensáveis ao reconhecimento da validade dos fenômenos a que se
referem, mediante entendimentos que serão dados a público pela Revista;
2º
a examinarem os nomes de representantes que a Revista designará, como
observadores, escolhidos entre pessoas categorizadas, de reconhecida
probidade e de alta qualificação intelectual. (Em caso de recusa de
algum nome pelos reptados a Revista designará outro, até que se ajuste a
comissão dos três), devendo também êsses entendimentos serem dados a
público pela Revista;
3º
a acertarem, com a comissão dos observadores da Revista, os métodos de
contrôle a serem adotados para reconhecimento da autenticidade dos
fenômenos alegados, entendimentos e métodos êstes que também serão dados
a público, na oportunidade; e
4º a realizar, nas condições afinal estipuladas de comum acôrdo, UMA SÓ MATERIALIZAÇÃO! Bastará UMA!
NOTAS:
1)
Os reptados têm o prazo de 15 dias, contados a partir de 21 de março de
1964 (data da capa desta edição), para dizer que aceitam o desafio
lançado ao seu BRIO PROFISSIONAL e à sua HONESTIDADE PESSOAL.
2) A falta de resposta ao repto, no prazo mencionado, importará numa confissão tácita da fraude de que são acusados pela Revista.
3)
Os que não desejarem, por motivos quaisquer, aceitar o repto, deverão
declarar oficialmente que não são testemunhas dos fenômenos que se alega
terem ocorrido em Uberaba.
4) Tôdas as despesas dos reptados e dos médiuns, escolhidos, correrão por conta da Revista.
5)
Também por conta da Revista, os reptados escolherão na Guanabara o
local que desejarem para as experimentações, exclusivamente na zona
urbana da cidade.
6)
A revista “O Cruzeiro” oferece Cr$ 20.000.000,00 (vinte milhões de
cruzeiros) a título de contribuição para prosseguimento das pesquisas da
equipe reptada, caso realizem a materialização, nas condições estipuladas.
7) Os reptados têm o prazo de seis meses, a partir da conclusão dos entendimentos preliminares, para comprovar o fenômeno do qual alegam ter provas.
8)
Se não fizerem a “Materialização” objeto do repto, no prazo estipulado,
os reptados se comprometerão, em documento firmado em cartório, a
declarar falsas tôdas suas declarações anteriores em testemunho do dito
fenômeno, ou a indenizar, em Cr$ 3.000.000,00 (três milhões de
cruzeiros) cada um dos Repórteres que acusaram de falsear os fatos.
ÊSTES médicos
estiveram na TV Itacolomi, de Belo Horizonte. Ali, em nome dos
companheiros, que formam um grupo de 19, afirmaram categòricamente,
iniludivelmente serem testemunhas, sob sua fé de médicos, das chamadas
ectoplasmias, ou seja a materialização de espíritos. Asseguraram ter
comprovado a materialização de uma freira, a que chamam “Irmã Josefa”.
Suas palavras estão gravadas.
AÍ ESTÁ (à direita) a suposta “entidade”, aquilo que seria um espírito tornado matéria – “Irmã Josefa”. Contra as palavras do Dr. Waldo Vieira que disse ser a “entidade” diferente da médium Otília Diogo, que declarou, em Belo Horizonte havê-la tocado, auscultado, examinado, enfim, “Irmã Josefa” aparece absolutamente igual a Otília Diogo. É hora da contraprova. Vamos ver para crer. Vamos às evidências.
A REPORTAGEM QUE NÃO FOI ESCRITA
Mário de Moraes
MINHA EXPERIÊNCIA EM UBERABA (IV)
MAIS uma vez sou
obrigado a explicar que esta sessão é escrita com um mínimo de três
semanas de antecedência. Depois que entreguei as primeiras reportagens
sôbre minha experiência em Uberaba, muita água correu sob a ponte. E eu
estive, na “Volante do Pallut”, frente a frente com os dois sujeitinhos
que tão severamente haviam me acusado, na base do “monólogo”, em dois
programas anteriores. Por isso, a partir desta quarta reportagem, minhas conclusões também serão baseadas no que ficou comprovado nesse debate.
No
programa apareceu um dos médicos presentes à experimentação que
assistimos em casa de Chico Xavier. Vinha furioso, alegando que o
havíamos chamado de mistificador. Até o presente momento eu, pelo menos,
não separei o joio do trigo. Que a sessão de Uberaba foi fraudulenta,
não tenho a menor dúvida. Fraudulenta à luz da lógica, do espiritismo e
da parapsicologia. Que Otília Diogo não agiu sòzinha, mas com a
cumplicidade de alguns presentes, também é certo. Mas não dei nome aos
bois. Na reportagem anterior escrevi que a maior parte dos que
estavam naquela sala acreditava no fenômeno. Não se precipite, Dr.
Calvo, colocando a carapuça.
Voltemos
ao fato de ser ou não possível agarrar a “materialização”. Porque não
agarramos expliquei na semana passada. Mas o Dr. Valdo Vieira, em
declarações prestadas a uma repórter da TV-Itacolomi (temos o disco)
declara que segurou várias vêzes na “Irmã Josefa”, chegando a sentir,
“através das suas roupas”, a temperatura fria do seu braço. Nas
fotos em côres, Otília, no papel de “Josefa”, aparece com a cor rosada
dos vivos. Outra coisa estranha: para nós disseram que a médium
“morreria” se a tocássemos. Pedimos para fotografar Otília expelindo
“ectoplasma”. Impossível. A luz do “flash” dissolveria a matéria. Mas os
experimentadores de Uberaba nos enviaram uma foto (desfocada) de um
médium “vomitando” ectoplasma (“O Cruzeiro” de 18-1-64, pág. 78). E é
bom que se diga: na primeira reportagem sôbre o assunto, publicada nesta
Revista, não atestamos o fenômeno. Tanto que o repórter José
Franco, ao fim do texto, declara que “O Cruzeiro” iria a Uberaba
comprovar a veracidade ou não das experimentacões.
Aos verdadeiros espíritas estranha o fato de o espetáculo (volto a afirmar: espetáculo,
para mim, foi a experiência que assisti em Uberaba) ter sido realizado
na sala da frente da casa de Chico Xavier. Considerado, mesmo por
aqueles que não acreditam nos seus podêres psicográficos, como um homem
bom, Chico não poderia envolver-se numa fraude. Essa também é a minha
opinião. Vi fotos que atestam a sua obra filantrópica. Chico alimenta
diáriamente os pobres da cidade. No último Natal distribuiu vestes,
brinquedos e comida para 17 mil pessoas (há uma impressionante foto
aérea do acontecimento). Eu cheguei a pensar em fazer, no futuro, uma
reportagem sôbre o assunto. Valdo Vieira, o médico que se instalou na
casa de Chico, é outro dos “intocáveis” para os espíritas. Para estes,
Valdo também não participaria de uma mistificação. Muito bem. Por que,
então, deram sumiço nos dois? Para que não viessem desmentir os
sujeitinhos que nos atacaram na televisão? Porque êstes andaram
exibindo, na nossa ausência, as vestes “rasgadas” da médium, que nós
teríamos “violentado”. E que Chico Xavier, ajoelhado e em prantos, pedia
para pararmos com aquela violência. Deslavada mentira! Fácil de ser
comprovada. Quando estivemos cara a cara (e melhor ocasião não havia
para a exibição) êles não mostraram mais as roupas violadas de Otília. E
quando interrogamos o Dr. Calvo êste médico declarou que não vira
ninguém rasgar as roupas da médium. Acrescentando: “__ Quando saí ouvi alguma coisa a respeito,
mas não dei maior importância ao fato”. Ridículo. Os repórteres
violentam uma mulher, na casa de Chico Xavier (verdadeiro deus em
Uberaba) e em presença de dezenas de testemunhas, e ninguém a defende. O
próprio fotógrafo-oficial do grupo confirmou que, após a sessão, foi
batida uma foto de confraternização, com todos os presentes. Seria o
prêmio por têrmos “violentado” Otília? Por que os verdadeiros espiritas
não pedem o depoimento de Chico Xavier e Valdo Vieira a êsse respeito?
Comprovada a mentira, uma coisa ficará patente: debaixo dêsse angu há
osso com bom tutano. O próprio Chico poderá ter sido levado no engôdo.
Só
há uma saída para os experimentadores de Uberaba: façam uma nova
sessão, em presença de pessoas da sua e nossa confiança. E vamos ver
quem são os verdadeiros mistificadores!
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