Mais uma edição da revista O Cruzeiro disponível, graças ao trabalho de Vital Cruvinel. Vital possui um blog chamado Rede de Pesquisas Espíritas
em que convida as pessoas a colaborarem em seu estudo sobre o caso.
Abaixo segue a revista disponibilizada e a reportagem transcrita.
A REPORTAGEM QUE NÃO FOI ESCRITA
Mário de Moraes
MINHA EXPERIÊNCIA EM UBERABA (II)
O Dr. Waldo Vieira, que é o dono da bola, prometera que teríamos
tantas sessões quantas fôssem necessárias para fazermos uma boa
reportagem e voltarmos certos da existência do fenômeno. Baseados na
palavra dêsse médico, combinamos, ainda no hotel, que a primeira
experiência seria para observações. Nela toparíamos tudo. Na segunda, se
não estivéssemos convencidos, desmascararíamos o embuste. O Dr. Waldo
nos recebeu na casa de Chico Xavier e deu-nos uma série de explicações:
a) não poderíamos, de maneira nenhuma, agarrar na materialização, pois
isto ocasionaria a morte da médium. Falei-lhe no meu desejo de dar um
apêrto de mão na Irmã Josefa. Disse que isso só poderia ser resolvido na
hora da sessão; b) não era possível retirar a cabina, de cortinas
pretas, atrás da qual ficaria a manietada médium Otília. Atingida pela
luz do "flash", a pobre mulher poderia sofrer algum mal. Um outro médium
ficara paralítico de uma perna; c) seria permitido o uso de um "flash"
e, mesmo assim, êste só seria usado quando a "entidade" o ordenasse.
Porque a sua luz, acesa sem permissão, "dissolveria" o "ectoplasma",
causando a morte de Otília; d) nas 29 cadeiras, dispostas em semicírculo
dentro da sala de experimentação cinco haviam sido reservadas para O
Cruzeiro. Foi-nos apresentado um croquis do local, com os nossos
assentos já assinalados; e) não era possível colocar talco em redor da
cadeira da médium como pedi porque esta tinha uma idiossincrasia ao
mesmo. Depois, o Dr. Waldo deu uma segunda explicação: um espectador
havia se levantado, numa das sessões anteriores, e colocado o pé no
talco, para desmoralizar a experiência; f) a única luz que existiria
dentro da sala (tôdas as outras haviam sido retiradas), uma pequena
lâmpada branca, pintada de vermelho, permaneceria acesa, durante todo o
tempo da experiência; g) ninguém poderia dirigir a palavra à "entidade
materializada". Isto seria feito através do Dr. Sebastião de Melo, que
controlaria a sessão. Êle faria o papel de censor da Irmã Josefa; h)
talvez sentíssemos vontade de vomitar. Não deveríamos ter mêdo, pois
estaríamos "fornecendo" ectoplasma; 1) seríamos revistados dos pés à
cabeça, não podendo entrar de paletó ou com qualquer objeto nos bolsos;
j) ninguém poderia levantar-se da cadeira, sem prévia autorização do Dr.
Sebastião.
Êstes
os dez principais itens que regeriam os trabalhos. Examinarei um por
um. E através dêles responderei a muitas perguntas, bem como rebaterei
as tôlas acusações que me fizeram num programa de televisão: a) quando
quis cumprimentar a "Irmã Josefa", eu tinha um objetivo: pedir-lhe para
desmaterializar a sua na minha mão. Isso é comum em experiências dêsse
tipo, segundo explicam os livros especializados. Na hora da sessão,
porém, a "Irmã Josefa" disse que não podia cumprimentar-me, pois havia
materializado apenas um dedo da mão direita. Faltara ectoplasma para os
demais. Poderia, isto sim, tirar um retrato ao meu lado. Mas não
deveria, de maneira nenhuma, tocá-la. Quando ela ordenou, fui levado, na
escuridão (minhas mãos seguras pelo Dr. Waldo), até o lado esquerdo da
"Irmã Josefa". Tanto o médico quanto a "freira" avisando, sem parar: __
"Não toque na Irmã! Poderá matar Otília! Fique sempre de braços para a
frente!" Colocado ao lado da "materialização", aguardei o momento da
foto. Abri bem os olhos para que a luz não me cegasse e pudesse
distinguir as feições da "madre". Da primeira vez foi impossível. O
"flash" pegou-me de cheio e não vi quase nada. Na segunda porém, mais
prevenido, consegui ver claramente o nariz inconfundível e abatatado de
Otília Diogo. Um dos tais sujeitos da TV disse, mostrando uma das minhas
fotos, a primeira, que eu ficara com mêdo da "Irmã Josefa".
Infelizmente, apesar de jornalista, é leigo em fotografia. Êle que me
deixe acender um "flash" na sua cara numa sala às escuras, e verá como
seus olhos aparecerão arregalados. Isso é primário. Como exemplo,
reparem na foto publicada em O Cruzeiro de 1-2-64, pág. 80, aquela em
que Jorge Audi aparece ao lado do Dr. Waldo. O pobre (?) médico parece
assustadíssimo, êle que é íntimo amigo da "Irmã Josefa", com ela convive
há muitos meses, segundo suas próprias declarações.
Continuarei nesse item, na próxima semana.
Aos espíritas realmente puros, uma advertência: a fraude de Uberaba só serve para desmoralizar e desprestigiar o, espiritismo.
COCHICHOS
José de Anchieta
* Duas frases de um
espírita sério quando assistia à entrevista do Sr. Jorge Rizzini na TV
Continental defendendo os mistificadores de Uberaba: "Com êsse rosto
queimadinho do sol, êsse cabelo bem penteado, êsse ar próspero e
irresponsável, o Rizzini não deve ser espírita, mas "playboy" de
Guarujá". __ Não conheço o Rizzini espírita ou entendido em ectoplasmia.
Portanto, acho que êle é o secretário de finanças da Companhia Nacional
de Materializações S/A com sede em Uberaba, Minas Gerais.
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