quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Resgate Histórico: Revista O Cruzeiro de 07/03/1964

Mais uma edição da revista O Cruzeiro disponível, graças ao trabalho de Vital Cruvinel. Vital possui um blog chamado Rede de Pesquisas Espíritas em que convida as pessoas a colaborarem em seu estudo sobre o caso. Abaixo segue a revista disponibilizada e a reportagem transcrita.

A REPORTAGEM QUE NÃO FOI ESCRITA  
Mário de Moraes 
MINHA EXPERIÊNCIA EM UBERABA (II) 
            O Dr. Waldo Vieira, que é o dono da bola, prometera que  teríamos tantas sessões quantas fôssem necessárias para fazermos uma boa reportagem e voltarmos certos da existência do fenômeno. Baseados na palavra dêsse médico, combinamos, ainda no hotel, que a primeira experiência seria para observações. Nela toparíamos tudo. Na segunda, se não estivéssemos convencidos, desmascararíamos o embuste. O Dr. Waldo nos recebeu na casa de Chico Xavier e deu-nos uma série de explicações: a) não poderíamos, de maneira nenhuma, agarrar na materialização, pois isto ocasionaria a morte da médium. Falei-lhe no meu desejo de dar um apêrto de mão na Irmã Josefa. Disse que isso só poderia ser resolvido na hora da sessão; b) não era possível retirar a cabina, de cortinas pretas, atrás da qual ficaria a manietada médium Otília. Atingida pela luz do "flash", a pobre mulher poderia sofrer algum mal. Um outro médium ficara paralítico de uma perna; c) seria permitido o uso de um "flash" e, mesmo assim, êste só seria usado quando a "entidade" o ordenasse. Porque a sua luz, acesa sem permissão, "dissolveria" o "ectoplasma", causando a morte de Otília; d) nas 29 cadeiras, dispostas em semicírculo dentro da sala de experimentação cinco haviam sido reservadas para O Cruzeiro. Foi-nos apresentado um croquis do local, com os nossos assentos já assinalados; e) não era possível colocar talco em redor da cadeira da médium como pedi porque esta tinha uma idiossincrasia ao mesmo. Depois, o Dr. Waldo deu uma segunda explicação: um espectador havia se levantado, numa das sessões anteriores, e colocado o pé no talco, para desmoralizar a experiência; f) a única luz que existiria dentro da sala (tôdas as outras haviam sido retiradas), uma pequena lâmpada branca, pintada de vermelho, permaneceria acesa, durante todo o tempo da experiência; g) ninguém poderia dirigir a palavra à "entidade materializada". Isto seria feito através do Dr. Sebastião de Melo, que controlaria a sessão. Êle faria o papel de censor da Irmã Josefa; h) talvez sentíssemos vontade de vomitar. Não deveríamos ter mêdo, pois estaríamos "fornecendo" ectoplasma; 1) seríamos revistados dos pés à cabeça, não podendo entrar de paletó ou com qualquer objeto nos bolsos; j) ninguém poderia levantar-se da cadeira, sem prévia autorização do Dr. Sebastião. 
            Êstes os dez principais itens que regeriam os trabalhos. Examinarei um por um. E através dêles responderei a muitas perguntas, bem como rebaterei as tôlas acusações que me fizeram num programa de televisão: a) quando quis cumprimentar a "Irmã Josefa", eu tinha um objetivo: pedir-lhe para desmaterializar a sua na minha mão. Isso é comum em experiências dêsse tipo, segundo explicam os livros especializados. Na hora da sessão, porém, a "Irmã Josefa" disse que não podia cumprimentar-me, pois havia materializado apenas um dedo da mão direita. Faltara ectoplasma para os demais. Poderia, isto sim, tirar um retrato ao meu lado. Mas não deveria, de maneira nenhuma, tocá-la. Quando ela ordenou, fui levado, na escuridão (minhas mãos seguras pelo Dr. Waldo), até o lado esquerdo da "Irmã Josefa". Tanto o médico quanto a "freira" avisando, sem parar: __ "Não toque na Irmã! Poderá matar Otília! Fique sempre de braços para a frente!" Colocado ao lado da "materialização", aguardei o momento da foto. Abri bem os olhos para que a luz não me cegasse e pudesse distinguir as feições da "madre". Da primeira vez foi impossível. O "flash" pegou-me de cheio e não vi quase nada. Na segunda porém, mais prevenido, consegui ver claramente o nariz inconfundível e abatatado de Otília Diogo. Um dos tais sujeitos da TV disse, mostrando uma das minhas fotos, a primeira, que eu ficara com mêdo da "Irmã Josefa". Infelizmente, apesar de jornalista, é leigo em fotografia. Êle que me deixe acender um "flash" na sua cara numa sala às escuras, e verá como seus olhos aparecerão arregalados. Isso é primário. Como exemplo, reparem na foto publicada em O Cruzeiro de 1-2-64, pág. 80, aquela em que Jorge Audi aparece ao lado do Dr. Waldo. O pobre (?) médico parece assustadíssimo, êle que é íntimo amigo da "Irmã Josefa", com ela convive há muitos meses, segundo suas próprias declarações. 
            Continuarei nesse item, na próxima semana. 
            Aos espíritas realmente puros, uma advertência: a fraude de Uberaba só serve para desmoralizar e desprestigiar o, espiritismo. 
COCHICHOS 
José de Anchieta 
* Duas frases de um espírita sério quando assistia à entrevista do Sr. Jorge Rizzini na TV Continental defendendo os mistificadores de Uberaba: "Com êsse rosto queimadinho do sol, êsse cabelo bem penteado, êsse ar próspero e irresponsável, o Rizzini não deve ser espírita, mas "playboy" de Guarujá". __ Não conheço o Rizzini espírita ou entendido em ectoplasmia. Portanto, acho que êle é o secretário de finanças da Companhia Nacional de Materializações S/A com sede em Uberaba, Minas Gerais.

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