domingo, 20 de janeiro de 2013

O código XAVIER


Chico combinou com três pessoas sinais secretos para que suas mensagens pósmorte fossem reconhecidas. Em Brasília, um médium garante incorporá-lo

HUGO STUDART E JONAS FURTADO

Chico Xavier sempre motivou polêmicas proporcionais ao tamanho do mito criado por suas obras espirituais, literárias e sociais. Em vida, alguns seguidores discutiam fervorosamente se ele era a reencarnação de Allan Kardec (fundador da doutrina espírita). O próprio Chico nunca proferiu uma palavra sobre o assunto. Com sua morte, surgiu a expectativa de ele passar a enviar mensagens. Há quem acredite que Chico já esteja se comunicando, mas também existem aqueles que rechaçam a idéia. O debate é acalorado porque antes de morrer Chico teria deixado um código para ser reconhecido por três das pessoas mais próximas a ele: o filho adotivo, Eurípedes Higino dos Reis, a melhor amiga, Kátia Maria, e seu médico, Eurípedes Tahan Vieira. Com base nesses sinais secretos, apenas o trio poderia confirmar quando a espera por um contato do médium chegaria ao fim.
O conteúdo do código é mantido em sigilo absoluto para afastar aproveitadores. "Cada um tem o seu código. Eu não sei o deles, eles não sabem o meu", afirma Kátia Maria, revelando apenas que reconheceria o espírito do médium por palavras précombinadas em meio a mensagens. Eurípedes dos Reis acertou com o pai o que e como ele falaria para não deixar dúvidas de seu retorno. Já o médico Eurípedes Vieira sugere que o sinal que lhe cabe está relacionado à postura de quem receber o contato. "Você identifica as pessoas pelas atitudes. Como médico dele, sabia muito mais do que os outros."
Pois há cinco anos o aparecimento de um espírito que se identifica como Chico Xavier vem ocorrendo em Brasília. A primeira comunicação teria acontecido três meses após sua morte. Diante de seis médiuns do centro espírita Monte Alverne, o médium Ariston Teles teria incorporado Chico Xavier, pedindo preces em favor dos amigos de Uberaba. Chorou quando falou do filho adotivo. A partir de então, o espírito passou a retornar com espaços variados de até dois meses. Teles nunca psicografou o religioso mineiro. Geralmente, ele fala de cinco a dez minutos. São preces, mensagens de conforto espiritual ou notícias para conhecidos. O centro espírita já editou um livro de 94 páginas, Notícias de Chico Xavier, com 18 mensagens e uma hora de CD com a voz do espírito incorporado.
Aos 58 anos, Teles é funcionário administrativo da Câmara dos Deputados. Desde 1975 trabalha sua mediunidade psicofônica (quando o espírito fala através do médium). Ele conheceu Chico Xavier em 1980, em Uberaba. Freqüentou o grupo por dois anos. Então fundou seu centro espírita, o Monte Alverne, que atende em média 1,2 mil pessoas por semana, em passes, palestras e sopão. A última vez que Teles viu o médium foi em 1999. Nessa ocasião, ele teria lhe passado um código para reconhecê-lo em psicofonia. "Eu me pergunto por que Chico não buscou alguém mais evoluído, mais maduro e mais respeitado", diz.
Eurípedes dos Reis garante que seu pai nunca mencionou um código para a psicofonia. Nesses cinco anos, ele recebeu mais de 200 mensagens de gente que teria se comunicado com Chico Xavier. "Respeito todas. Infelizmente, não reconheci meu pai em nenhuma." Kátia e o médico Eurípedes Vieira também dizem não ter identificado os sinais combinados. "Até agora, nada me chamou a atenção", comenta Vieira.
Amigo de Chico Xavier por quase meio século, o médico Elias Barbosa faz parte do grupo que acredita que ele está se comunicando. Embora não tenha se encontrado com Ariston Teles, acha que pode ser real a incorporação. "Já recebi duas mensagens de Chico, de pessoas diferentes, que diziam para que eu continuasse minha tarefa na literatura espírita", diz. "Reconheci Chico pela superioridade moral presente nas palavras." Para o médium baiano Divaldo Franco, um dos maiores nomes do espiritismo, Chico Xavier deve voltar. Mas tem reservas quanto às notícias de que ele já retornou. "Incorporar Chico daria um certo status à pessoa. Por isso, é preciso cautela", pondera. Ele ainda não viu nenhuma mensagem que se equiparasse ao nível espiritual do médium mineiro. Entre as alardeadas, ao menos. "Tenho a sensação de que Chico já voltou, só que de modo discreto, como foi em vida", resume.

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