Apresentam-se
aqui, como prometido, as provas materiais que Otília Diogo fraudava,
entre elas o crucifixo de Irmã Josefa e as barbas de Alberto Veloso. No
final do post há um link para baixar a reportagem completa em alta
resolução. Agradecemos muito a Guilherme Amaral Santos, que
disponibilizou esse material. Guilherme fez novos vídeos sobre Chico
Xavier, o primeiro deles podendo ser visto aqui.
O Cruzeiro (27 de Outubro de 1970)
Irmã
Josefa não existe mais. Foi descoberta no interior de uma mala, muda e
sem o característico perfume de flores. 6 anos depois que O CRUZEIRO
publicou uma série de reportagens sobre os casos de materialização em
Uberaba e Andradas, conseguindo desmascarar fotograficamente os
espíritos trazidos pela médium Otília Diogo, apareceram finalmente as
provas materiais da grande farsa que provocou enorme repercussão em todo
o país. O fim da irmã Josefa e de seus companheiros do além ocorreu em
São Paulo, precisamente na casa de um cirurgião plástico que hospedou
durante alguns dias a famosa médium Otília. Demorou um pouco, mas a
verdade agora está completa sem nenhuma interrogação.
Reportagem de LUIZ ANTONIO LUZ e CARLOS PICCINO
EM 1964, A SUPOSTA IRMÃ JOSEFA ERA UM ASSUNTO NACIONAL
18
de janeiro de 1964 — Sob o titulo Fenômenos de Materialização, O
CRUZEIRO publica uma extensa reportagem dedicada às pesquisas que
estavam em desenvolvimento na cidade de Uberaba. Alicerçada pelos
depoimentos de médicos e cientistas conhecidos em Minas Gerais,
numerosas fotografias ilustravam a materialização de vários espíritos.
Uma
onda de protestos, chegando ao ponto de vários jornais do Brasil
apresentarem editoriais pagos acusando os repórteres de O CRUZEIRO,
tornou ainda mais polêmico o assunto. As materializações em Uberaba nada
significavam, seja no plano espiritual, seja no científico. O
ectoplasma recebido por Otília não passava de uma faixa de gaze
retorcida. As experiências acabaram como por encanto e o nome Otília
Diogo foi por todos esquecido. Apesar de tantas provas, ela habilmente
desaparecera de cena, evitando a prisão.
Mas faltava uma prova definitiva no caso: a roupa usada pelos espíritos.
· um “espírito” bem esperto
Irmão
José, casado, 33 anos, é o responsável pela igreja do Perpétuo Socorro,
no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, onde se pratica o culto ao
padre Cícero de Juazeiro. Apesar de ser missionário da Igreja Católica
Ortodoxa Italiana, colaborava com o Centro Espírita Paz e Amor, que
funciona na cidade de Campinas. O mesmo local onde Otília Diogo
realizava, nestes últimos meses, suas sessões de materialização.
O
missionário chegou a levar pessoas da sociedade paulista aos trabalhos
da médium. Como antigo estudioso dos fenômenos da materialização, irmão
José organizou verdadeiras caravanas em direção a Campinas. O próprio
Irmão conta que estava plenamente convencido da bondade e sinceridade da
médium;
—
Confesso que fiquei profundamente impressionado com os poderes daquela
mulher. Ao ver a Irmã Josefa materializada diante de mim, nada mais
podia fazer naquele instante senão respeitar o que estava vendo com meus
próprios olhos. Convidei-a, inclusive, para conhecer a minha igreja em
Santo Amaro. Ela veio um dia e distribuiu aos fiéis pétalas de rosa que,
segundo afirmava, estavam abençoadas pela irmã Josefa. Fiquei
imensamente feliz naquele dia. Passei a falar em meus programas no rádio
sobre as maravilhas que eu havia presenciado em Campinas. Muitas
pessoas passaram a acreditar na encarnação dos espíritos, e a crença em
Otília chegou a tal ponto que muita gente dava ajuda financeira para
sustentar a “sopa dos pobres” que a médium dizia manter. Hoje me
envergonho disso. Eu nunca esperei que essa mulher pudesse mistificar
tão grosseiramente.
A devotada médium Otília resolveu tirar algumas rugas
· doutor, tire as minhas rugas”
A
amizade entre o dr. S. M. (omitimos o nome a seu pedido) e o irmão José
já vem de muitos anos. A clínica de propriedade do cirurgião plástico
atende às crianças mantidas pela igreja do Perpétuo Socorro. Convidado
pelo missionário, assistiu aos fenômenos provocados por Otília no centro
espírita em Campinas. Passou a ser um espectador assíduo, na tentativa
de descobrir a verdade científica do caso.
Numa sexta-feira do mês de julho. Otília aproximou-se do médico, ao terminar a sessão:
— Doutor, acabe com as rugas do meu rosto. Eu ficaria muito agradecida se o senhor pudesse fazer isso.
Apesar
de surpreso com a vaidade repentina de Otília, sempre tão humilde, o
médico concordou em realizar a plástica. A operação foi marcada para o
mês seguinte.
No
dia combinado, a médium chegou à clinica do dr. S. M., muito sorridente
e trazendo na sua bagagem uma pequena maleta, da qual nunca se
separava. Após 12 horas de cirurgia, Otília foi removida para o seu
quarto. Dias depois, na tarde em que recebeu alta, procurou o médico em
seu consultório, que nada lhe havia cobrado pelos serviços:
— Como gratidão, eu vou fazer uma sessão de materialização especial para o senhor e sua família.
O
dr. S. M. lembra-se bem desse dia: “Evidentemente, eu tive de
concordar, pois gostaria de ver mais de perto o fenômeno. Sempre
respeitei o espiritismo sério, o espiritismo-ciência. Pensava que Otília
fizesse parte dessa gente”.
· uma demonstração muito especial
Durante os dias que antecederam a demonstração, Otília ficou hospedada na residência do médico, em Santo Amaro. Foi então que o dr. S. M. começou a notar que a visitante mantinha permanente vigilância à pequena maleta, a mesma que trouxera para a clínica.
—
Achei que ela se preocupava demais com a maleta de viagem. Conversei
sobre as minhas observações com minha mulher, mas ela achou que eu
estava fazendo julgamentos precipitados. Assim como milhares de outras
pessoas, minha esposa também já se influenciara pela personalidade e
peio jeito cativante, simples e inculto da médium.
Na
noite da sessão especial, a casa do cirurgião plástico ficou repleta de
convidados e amigos da família, ansiosos pelo início de “uma das
experiências mais fantásticas até agora realizadas”. Entre os presentes,
encontravam-se o coronel Guedes, diretor da Casa de Detenção de São
Paulo; o advogado Isidoro Gallo, muito conhecido no bairro de Santo
Amaro; o irmão José e grande número de estudantes.
No interior da mala, as roupas do além
O cirurgião plástico S. M., que preferiu omitir o nome à reportagem, hospedou Otília Diogo em sua própria casa, após a operação. Desconfiado das atitudes da médium, desvendou o mistério: uma pequena maleta guardava os espíritos e seus acessórios. A atriz Maria Viana, ajudada pelo irmão José e o advogado Isidoro Gallo, mostra como a farsante guardava as roupas no interior de sua cinta-calça. Com uma grande habilidade e rapidez, Otília se libertava das correias, vestia as roupas em segundos e aparecia aos espectadores como a finada irmã Josefa.
DESVENDOU A TRAMA
Para
realizar o trabalho, Otília Diogo fez uma série de exigências:
solicitou o grande salão nos fundos da casa e, entre outras coisas,
determinou que uma corda fosse estendida de fado a fado, isolando o
público do local da função, a cerca de oito metros. Da clínica do dr. S.
M. trouxeram uma cadeira de otorrino, onde a médium foi amarrada. O
coronel Guedes, o dr. Isidoro Gallo e o dono da casa prenderam os pulsos
de Otília nos braços da cadeira.
· e apareceu a irmã Josefa
Como
sempre acontecia desde os tempos em que praticava com espíritos em
Uberaba e Andradas. Otília Diogo não permitiu que o dr. S. M. examinasse
detalhadamente suas roupas. Apenas um exame superficial pôde ser feito.
De suas peças íntimas, ela só mostrou o soutien, pois alegou estar em
período de menstruação.
Conforme
o combinado, pediu a todos que se mantivessem além da corda estendida.
As luzes se apagaram e uma vitrola passou a tocar músicas religiosas. De
repente, o interruptor colocado ao lado da médium foi acionado pela
primeira vez. Numa fração de segundos, para espanto geral (as luzes se
acendiam e apagavam, alternadamente), todos viram a Irmã Josefa. Vestida
de branco, as mãos postas em atitude de oração, a cabeça inclinada para
baixo e as pernas unidas. Entre as vestes, destacavam-se o crucifixo e
um rosário de pedras brilhantes. Uma voz suave dizia lentamente: “Viva
Jesus”, enquanto a irmã cumprimentava alguns dos espectadores.
Ao
contrário dos amigos, emocionados desde o inicio, o dr. S. M. procurou,
nos pequenos intervalos em que a irmã aparecia, observar uma série de
detalhes importantes. Quando a materialização chegou ao fim e a luz foi
acesa, todos estavam fascinados, menos o médico.
— Procurei
observar bem o desenvolvimento do ectoplasma, mas nada constatei no
plano científico. Achei também que o véu, a grinalda e a luva da irmã
Josefa estavam sobrepostos, amarrotados em várias partes.
Outro detalhe aumentou as suspeitas do médico:
— Notei,
apesar da rapidez como a imagem surgia e desaparecia, que o véu
materializado trazia vestígios bem claros de vincos mais ou menos
distantes, principalmente na parte inferior, o que me fez concluir que
estivera dobrado em retângulos momentos entes. Na mesma hora me lembrei
da maleta que merecia tantos cuidados da médium: era rasa e retangular.
Para
o dr. S. M„ apenas duas perguntas exigiam respostas: a maneira como
apareciam as outras entidades materializadas por Otília, Japi, a
Indiazinha que tocava flauta, e o dr. Vefoso, que usava cavanhaque e
bigode. Finalmente, como ela se libertava da cadeira?
· o último ensaio geral
Na
noite anterior ao retorno de Otília para Campinas, a família do médico
recebeu alguns parentes e amigos para comemorar o aniversário de uma das
filhes. Uma noite alegre, com muito uísque e histórias de Otília sobre
as rugas que tirou da operação. Estavam todos na sala conversando. As
crianças assistiam a televisão. Em dado momento, bastante alcoolizada, a
médium deu alguns passos pelo cômodo e sentou-se no chão, diante do
televisor. Em gesto extremamente rápido, ela apanhou uma mela de uma das
pessoas na sala e amarrou-se com uma técnica de artista, fato que
chamou a atenção do dr. S. M. Quando lhe perguntaram o que estava
acontecendo, Otília foi brusca na resposta:
— Estou recebendo Japi!
Suas
palavras chocaram os convidados. “Perguntei-lhe, conta o médico, se era
possível para uma médium receber com a luz acesa. Ela respondeu-me que
Japi desejava naquela noite descer com a luz acesa”. Depois de vários
estertores e contrações faciais estranhas, Otília sossegou. Em seguida,
tomou mais alguns uísques, soltou a meia que ela mesma havia amarrado ao
pulso e pediu para ir dormir. Não estava em condições de caminhar,
precisando da ajuda da minha esposa para chegar ao quarto. Eu pensava em
três coisas: na maleta, na perfeita mudança do timbre de voz no momento
em que recebia a índia, e na sua capacidade de se amarrar e desamarrar
sem ajuda, em frações de segundos. Estas evidências somadas começaram a
dar uma nítida impressão de que havia uma farsa vulgar em seus
trabalhos.”
DURANTE 6 ANOS, A MÉDIUM LUCROU COM OS SEUS “TRABALHOS”
· o crime estava dentro da mala
A
partir daquele instante, o médico ficou transtornado: “Uma angústia
terrível tomou conta de mim, Achei que era quase um dever reverter toda a
verdade”. Depois que os convidados saíram, chamou a esposa e conseguiu
convencê-la a ir até o quarto onde dormia Otília. Os dois procuraram
pela chave em cada gaveta e na roupa usada. A médium dormia
profundamente, não pressentindo a presença do casal. A esposa do médico
decidiu revistar Otília e; quando já ia desistir, notou uma saliência no
soutien. As chaves estavam ali.
Na
presença das filhas, das empregadas da casa e da esposa, o dr, S. M.
abriu a maleta misteriosa. A irmã Josefa apareceu desmontada. O
crucifixo foi o primeiro, depois veio o véu, que como o rosário estava
impregnado de material fluorescente. O manto, o capuz e as luvas de
renda da irmã Josefa estavam no fundo da mala, contrastando com um
objeto de aparência estranha: eram as barbas do dr. Veloso. Duas gaitas
também estavam na mala, e logo se deduziu que pertenciam a Japi, em suas
aparições tocando flauta. Embrulhados num pano, foram encontrados dois
pequenos vidros e uma bomba de spray. Um deles cheio de éter (dr.
Veloso) e o outro contendo o perfume da irmã Josefa, Ambos serviam para
reforçar a presença do espírito.
· assim, Otília perdeu o emprego
Passavam
alguns minutos das 9 horas da manhã seguinte, quando a médium acordou. A
família do dr. S. M. rodeava a cama. No centro do quarto, bem visível,
estava a maleta aberta. O médico falou secamente sobre a descoberta da
farsa. De imediato, a reação de Otília. Saltou da cama com as mãos na
cabeça e começou a gritar desesperada:
— Irmã Josefa, você me abandonou, Por que você me abandonou?
Soltando
palavrões a todos, a falsa médium sentia o fim. Só parou de xingar
quando ameaçaram entregá-la à polícia. Assustada, os olhos muito
abertos, o rosto ainda amassado pelo sono, ela contou uma história para
salvar alguma coisa:
Outubro de 1970: encerrado o caso das materializações em Uberaba.
Irmã Josefa nunca mais sairá da mala
Dobradas
cuidadosamente, as roupas da irmã Josefa estavam prontas para uma nova
aparição. Na maleta também estavam as barbas do dr. Alberto Veloso, o
crucifixo e o rosário fluorescente. O irmão José, que aparece nas fotos
inferiores, hoje se envergonha dos tempos em que foi enganado pela falsa
médium de Uberaba.
Link para baixar a reportagem em alta resolução:
http://www.4shared.com/file/243832012/b95efcaa/O_Cruzeiro_Outubro_de_1970.html
A maior Farsa do Brasil
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