quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Resgate Histórico: Revista O Cruzeiro de 29/02/1964

Nesta reportagem da revista O Cruzeiro Mário de Moraes refere-se aos ataques de Jorge Rizzini e Luciano dos Anjos. Em um número posterior, o do dia 14/03/1964, Mário explicará porque os repórteres não agarraram a Irmã Josefa quando podiam e assim desmascarar toda a farsa. Mais uma vez, agradecemos a Vital Cruvinel pelo envio da reportagem.

A REPORTAGEM QUE NÃO FOI ESCRITA
MÁRIO DE MORAES  
MINHA EXPERIÊNCIA EM UBERABA (I)  
ESTA é a primeira de uma série de reportagens que eu gostaria que permanecessem sem ser escritas. Já havia colocado ponto final na tristemente famosa experimentação de Uberaba. Mas não tenho culpa se dois sujeitos vêm até aqui e, numa estação de TV, assacam injúrias contra nós.
Ocupado como estou em provar, com o meu colega Jorge Audi, a inocência de um homem, não teria tempo para assuntos menos importantes. Outros repórteres desta Revista estão desmantelando aquela farsa.
Infelizmente, foram muitas as cartas que recebi e vários os telefonemas que me deram, perguntando se não iria responder às acusações. Para esses meus leitores, que não se conformaram com as explicações que dei numa reportagem — incompletas por falta de espaço — ofereço esta série. Para aqueles que me mandaram telegramas de felicitações, certos de que nada mais deveria ser escrito, o meu agradecimento. Para os demais que, depois de tudo, continuarem a achar que a razão está do outro lado, o meu silêncio. Já que esta é uma seção bem educada e eu não posso escrever o que realmente penso deles.
Como toda reportagem que se preza, comecemos do princípio. Eu estava no meu canto, quando fui chamado pelo Chefe de Reportagem. O Arlindo Silva selecionava um grupo de repórteres para ir a Uberaba. José Franco, do “bureau” de Minas Gerais, fora convidado para assistir a uma das tais experiências de materialização. E queria levar, como testemunhas, outros colegas de “O Cruzeiro”. Fui incluído na turma.
Para encurtar a história, chegamos a Uberaba à tarde, encontramos o José Franco e o José Nicolau e fomos diretos à casa do Chico Xavier. Lá conversamos longamente com o Chico e os Drs. Waldo Vieira e Sebastião de Melo. E foi com esses dois médicos que tratamos todas as normas que regeriam os trabalhos. À noite houve o espetáculo. Apareceram a Irmã Josefa e o Dr. Alberto Veloso materializados. Faço questão de frisar, para que não haja mal-entendidos: espetáculo, para mim, foi a experiência a que assisti em Uberaba. Não vou discutir aqui se existe ou não existe o fenômeno da materialização. A matéria é por demais complexa e profunda para ser analisada superficialmente. Nem vou debater sobre espiritismo. Mesmo porque sempre respeitei todos os credos. Cada um acredita no que quer. O que vale é ter fé em alguma coisa. São inúmeras, aliás, as reportagens que não foram escritas sobre temas espíritas. Devo esclarecer, inclusive, que sou um estudioso do assunto. E fui a Uberaba, estejam certos, na esperança de comprovar o fenômeno. Seria a maior das minhas experiências profissionais. Infelizmente, apesar de minha boa vontade, estava lidando com mentirosos. E quem comprova essa acusação são os mesmos que vêm se arvorando em defensores do grupo de Uberaba. Falando em nome de Waldo Vieira e de Chico Xavier, dão toda sorte de mentirosas declarações. Até onde estão autorizados a agir dessa maneira, não sei. O mais engraçado é que aqueles dois da TV não estavam em Uberaba na noite do espetáculo. Falam na base do ouvir dizer e do me disseram. Nem mesmo mereceriam resposta, não fosse o respeito que tenho aos meus leitores, manda-chuvas desta seção. Na noite em que fui atacado no programa de televisão, estava com Jorge Audi no interior do Estado do Rio, ocupado com o caso Helena Amoroso. Razão pela qual não compareci à estação para desmentir os nervosos defensores da “Irmã Josefa”. Além disso, a minha tribuna é o “O Cruzeiro”. Não vou ficar na base do bate-boca, discutindo com qualquer um. O que tiver que dizer, aqui será escrito.
O espaço vai acabando e pouca coisa foi dita. Prometo, porém, que não deixarei nenhuma acusação sem resposta. Em 20 anos de jornalismo nunca fui desmentido. E olha que ataquei muita gente grande e poderosa. Não vão ser dois sujeitinhos que irão manchar meu nome profissional com um monte de sandices e mentiras. Aguardem.   
O CRUZEIRO, 29-2-1964

Nenhum comentário:

Postar um comentário