quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Resgate Histórico: Revista O Cruzeiro de 28/03/1964

Esse exemplar foi conseguido graças ao esforço de Vital Cruvinel, a quem muito agradeço! Mais um número falando sobre as materializações de Uberaba, e porque tal sessão não poderia nunca ser tomada como evidência de um fenômeno legítimo, segundo Charles Richet, um dos luminares da metapsíquica.
A REPORTAGEM QUE NÃO FOI ESCRITA
MÁRIO DE MORAS
MINHA EXPERIÊNCIA EM UBERABA (V)
HÁ cinco semanas venho tratando do mesmo assunto. E, confesso, isto já está me aborrecendo. Não fosse a promessa feita, e daria o caso por encerrado, voltando às minhas antigas reportagens, bem mais interessantes (na minha opinião).
Felizmente, a grande maioria das cartas recebidas me é favorável. Boa parte enviada por espíritas realmente puros. Alguns leitores, entretanto, teimam em bater na mesma tecla: a fraude não foi provada. E citam vários autores, julgando-me muito pequeno para contradizer os luminares da metapsíquica. Vou jogar nesse terreno. Charles Richet, fisiologista francês, de todos o mais citado, é uma das maiores testemunhas a meu favor. Vejamos apenas dois itens, entre os muitos que êle enumera para evitar fraudes iguais à que assisti:
1.°) A ASSISTÊNCIA NAO DEVE SER NUMEROSA. NÃO É PRECISO SENÃO TRÊS, QUATRO OU CINCO PESSOAS, NO MÁXIMO. — Na sessão de Uberaba havia mais de 30;
2.°) PARA QUE A EXPERIÊNCIA SEJA VÁLIDA, HONESTA, É PRECISO QUE OS ESPECTADORES VEJAM A MÉDIUM DURANTE A EXPERIÊNCIA. SE HOUVER MATERIALIZAÇÃO, TODOS OS ESPECTADORES VERÃO, SIMULTANEAMENTE, A MÉDIUM E A FORMA MATERIALIZADA. — Em Uberaba, Otilia “morreria”, se aparecesse ao lado da “Irmã Josefa”.
Voltemos a Richet (e tudo isso já foi dito na reportagem de 15-2-964): “Todos aqueles que lidam com médiuns estão permanentemente expostos a serem ignobilmente traídos”. E mais adiante: “Se, por exemplo, num local fechado a chave, anteriormente explorado e pesquisado a fundo, uma forma de aparência viva se coloca ao lado do médium e anda perto dele, a dúvida não é permissível, porque ninguém poderia ter-se introduzido na peça”. Mesmo assim Richet adverte: “Mas é evidente que se precisa estar seguro de que não se trata de um manequim, e de que o própria médium adormecido não é um manequim”.
No que se conclui que Charles Richet, Prêmio Nobel de Medicina de 1913, não se conformaria com um fenômeno de materialização, em que a médium ficasse escondida atrás de uma cortina preta, numa sala completamente às escuras. E êle fazia seus experimentos nos anos que se seguiram à Primeira Grande Guerra.
Outro citado: William Crookes, famoso físico inglês. Durante muito tempo, Crookes assistiu às materializações de Katie King (neta do pirata Morgan), feitas pela médium Florence Cook. Sempre insistindo para vê-las juntas. O que, finalmente, foi permitido. Na ocasião, o físico inglês viu a materialização e uma forma humana coberta por um lenço, que Katie disse ser Florence. Crookes também quis, ver a médium ao lado da coisa materializada, para comprovação total do fenômeno. Justo, portanto, que desejássemos ver Otilia Diogo Junto a “Irmã Josefa”.
Ou os meus letrados missivistas acham que Richet e Crookes acreditariam no espetáculo a que assisti? O próprio Richet desmascarou dezenas de falsos médiuns. A ponto de aconselhar: “É sempre necessário, em experiências metapsíquicas, supor que haja fraude” (Traité de Métapsychique, pág. 593). Afirmando que “a fraude não resiste a controles prolongados e múltiplos”. Porque “os mistifica-dores, logo que saem de seu estreito circulo primitivo de crédulos, defrontam-se com observadores sérios que os desmascaram”. E “se recusam a aceitar as condições experimentais que se lhes impõem, com justa razão é um primeiro motivo, bem legitimo, de suspeição”.
A prova do talco, pedida por mim, foi negada. Explicaram: alguém poderia levantar-se e colocar o pé no talco, para desmoralizar a experiência. Tolice. A posição dos pés denunciaria o culpado. Porque seria impossível (naquelas circunstâncias) um espectador levantar-se, abrir as cortinas pretas, entrar na cabina, e fazer com que seus pés ficassem na mesma posição dos da médium (“provando” que Otilia se havia levantado da cadeira). Além disso precisaria calçar o mesmo número da médium, e não deixar vestígios da sua volta ao lugar primitivo. Isto sem usar o argumento, por demais batido, de que se eles admitem que uma pessoa poderia levantar-se para fazer esse desonesto papel, também poderia levantar-se para libertar Otilia e ajudá-la a compor a falsa figura da Irmã Josefa.
Experimentadores de Uberaba: mais uma sessão, com pessoas da sua e nossa confiança!
Para baixar: link

Nenhum comentário:

Postar um comentário