Esse exemplar foi conseguido graças ao esforço de
Vital Cruvinel, a quem muito agradeço! Mais um número falando sobre as
materializações de Uberaba, e porque tal sessão não poderia nunca ser
tomada como evidência de um fenômeno legítimo, segundo Charles Richet,
um dos luminares da metapsíquica.
A REPORTAGEM QUE NÃO FOI ESCRITA
MÁRIO DE MORAS
MINHA EXPERIÊNCIA EM UBERABA (V)
HÁ cinco semanas venho tratando do mesmo assunto. E,
confesso, isto já está me aborrecendo. Não fosse a promessa feita, e
daria o caso por encerrado, voltando às minhas antigas reportagens, bem
mais interessantes (na minha opinião).
Felizmente, a grande maioria das cartas recebidas me é
favorável. Boa parte enviada por espíritas realmente puros. Alguns
leitores, entretanto, teimam em bater na mesma tecla: a fraude não foi
provada. E citam vários autores, julgando-me muito pequeno para
contradizer os luminares da metapsíquica. Vou jogar nesse terreno.
Charles Richet, fisiologista francês, de todos o mais citado, é uma das
maiores testemunhas a meu favor. Vejamos apenas dois itens, entre os
muitos que êle enumera para evitar fraudes iguais à que assisti:
1.°) A ASSISTÊNCIA NAO DEVE SER NUMEROSA. NÃO É
PRECISO SENÃO TRÊS, QUATRO OU CINCO PESSOAS, NO MÁXIMO. — Na sessão de
Uberaba havia mais de 30;
2.°) PARA QUE A EXPERIÊNCIA SEJA VÁLIDA, HONESTA, É
PRECISO QUE OS ESPECTADORES VEJAM A MÉDIUM DURANTE A EXPERIÊNCIA. SE
HOUVER MATERIALIZAÇÃO, TODOS OS ESPECTADORES VERÃO, SIMULTANEAMENTE, A
MÉDIUM E A FORMA MATERIALIZADA. — Em Uberaba, Otilia “morreria”, se
aparecesse ao lado da “Irmã Josefa”.
Voltemos a Richet (e tudo isso já foi dito na
reportagem de 15-2-964): “Todos aqueles que lidam com médiuns estão
permanentemente expostos a serem ignobilmente traídos”. E mais adiante:
“Se, por exemplo, num local fechado a chave, anteriormente explorado e
pesquisado a fundo, uma forma de aparência viva se coloca ao lado do
médium e anda perto dele, a dúvida não é permissível, porque ninguém
poderia ter-se introduzido na peça”. Mesmo assim Richet adverte: “Mas é
evidente que se precisa estar seguro de que não se trata de um manequim,
e de que o própria médium adormecido não é um manequim”.
No que se conclui que Charles Richet, Prêmio Nobel de
Medicina de 1913, não se conformaria com um fenômeno de materialização,
em que a médium ficasse escondida atrás de uma cortina preta, numa sala
completamente às escuras. E êle fazia seus experimentos nos anos que se
seguiram à Primeira Grande Guerra.
Outro citado: William Crookes, famoso físico inglês.
Durante muito tempo, Crookes assistiu às materializações de Katie King
(neta do pirata Morgan), feitas pela médium Florence Cook. Sempre
insistindo para vê-las juntas. O que, finalmente, foi permitido. Na
ocasião, o físico inglês viu a materialização e uma forma humana coberta
por um lenço, que Katie disse ser Florence. Crookes também quis, ver a
médium ao lado da coisa materializada, para comprovação total do
fenômeno. Justo, portanto, que desejássemos ver Otilia Diogo Junto a
“Irmã Josefa”.
Ou os meus letrados missivistas acham que Richet e
Crookes acreditariam no espetáculo a que assisti? O próprio Richet
desmascarou dezenas de falsos médiuns. A ponto de aconselhar: “É sempre
necessário, em experiências metapsíquicas, supor que haja fraude”
(Traité de Métapsychique, pág. 593). Afirmando que “a fraude não resiste
a controles prolongados e múltiplos”. Porque “os mistifica-dores, logo
que saem de seu estreito circulo primitivo de crédulos, defrontam-se com
observadores sérios que os desmascaram”. E “se recusam a aceitar as
condições experimentais que se lhes impõem, com justa razão é um
primeiro motivo, bem legitimo, de suspeição”.
A prova do talco, pedida por mim, foi negada.
Explicaram: alguém poderia levantar-se e colocar o pé no talco, para
desmoralizar a experiência. Tolice. A posição dos pés denunciaria o
culpado. Porque seria impossível (naquelas circunstâncias) um espectador
levantar-se, abrir as cortinas pretas, entrar na cabina, e fazer com
que seus pés ficassem na mesma posição dos da médium (“provando” que
Otilia se havia levantado da cadeira). Além disso precisaria calçar o
mesmo número da médium, e não deixar vestígios da sua volta ao lugar
primitivo. Isto sem usar o argumento, por demais batido, de que se eles
admitem que uma pessoa poderia levantar-se para fazer esse desonesto
papel, também poderia levantar-se para libertar Otilia e ajudá-la a
compor a falsa figura da Irmã Josefa.
Experimentadores de Uberaba: mais uma sessão, com pessoas da sua e nossa confiança!
Para baixar: link
Nenhum comentário:
Postar um comentário