quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Recordações

ARNALDO ROCHA FALA SOBRE CHICO XAVIER E MEIMEI

Em uma noite inesquecível, o ilustre conselheiro da União Espírita Mineira e amigo de Chico Xavier, Arnaldo Rocha, proferiu uma palestra na abertura da Semana Chico Xavier no Grupo da Fraternidade Irmã Scheilla, na capital mineira.
O ex-consorte de Irma de Castro Rocha, o encantador espírito de Meimei, atendendo prestimosamente ao convite da direção desse tradicional Centro Espírita, brindou o público com belas histórias inéditas do nosso querido médium de Pedro Leopoldo, Chico Xavier.
O Espírita Mineiro esteve presente para registrar o evento, reproduzindo resumidamente o inesquecível momento.
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Uma cena significativa. Arnaldo abre a sua sacolinha de plástico, retirando dela alguns livros, papéis e os distribuiu sobre a bancada, pediu para afastar o microfone, agradeceu por estar lá e começou a sua exposição.
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Inicia palestra falando o quê ele era: de 10 a 24 anos de idade era lutador de jiu-jitsu, campeão de natação e pesava 80 quilos de massa musculosa. Materialista: toma lá, dá cá; um homem não leva desaforo para casa.
Contou como conheceu Irma de Castro. Sua irmã a levou à sua casa. O apelido dela em casa era Naná. Foi o início de uma grande amizade. Ele fez questão de dizer que no começo era só amizade. Tinham muito em comum, ambos gostavam muito de ler. Quando não podiam comprar livros, iam à biblioteca pública para ler. Conta o primeiro dia em que se beijaram.
Seu modo simples vai despertando alegria no público.
Explicou o apelido de Meimei: liam um livro “Momento em Pequim” de um filósofo chinês, Lyn Yutang, que havia fugido do domínio de Mao Tsé Tung; no final, no glossário, o significado da palavra Meimei – “a noiva bem-amada”.
Contou sobre a visita à Igreja São José e da oração de Meimei junto à imagem de Jesus carregando a cruz, suplicando que Arnaldo deixasse de ser fanático e autoritário. Lembra-se que, naquela época, já havia se acostumado com as “esquisitices” da amada: pensava que ela era muito imaginativa e meio maluca!
Falou de sua própria família: a mãe, Maria José de São Domingos Ramalho Rocha, católica, mas que via espíritos; o irmão, Geraldo, era espírita. Conta que, quando foi à Igreja marcar o casamento, o padre quis saber se ele era católico. Ele disse que não e o padre se negou a casá-lo. Ele abriu o talão de cheques e o padre resolveu aceitar. Depois do casamento, ao entrarem na casa nova, Meimei prosseguiu de joelhos. Ele perguntou por que ela estava fazendo aquilo e ela respondeu que era para agradecer a Deus pela casa. Ele rebate: “O que é isso! Foi muito suor no trabalho para conseguir essa casa! Eu trabalhei muito pra isso!”
Sua franqueza despertou muitos sorrisos na assistência.
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Arnaldo Rocha, com a voz embargada pela emoção, discorreu sobre o final de seu casamento, com a partida de Meimei para o plano espiritual. Suas expressões revelavam sinceridade e ternura que a cada instante cativavam o público atento.
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“Amigos, falou pausadamente, não fui ao enterro de minha querida esposa, e nem me preocupei com o local. Conheci a placa que sua mãe e irmãs mandaram fazer para ela, no Cemitério do Bonfim, 44 anos depois! Essa foi a maneira de viver minha dor. Eu era materialista e nada me importava. Não culpava a ninguém, pois na visão materialista a fatalidade vem para todos: plantas, animais… por que não para os homens?
A depressão não tardou e cheguei a pesar 54 quilos; falavam que eu estava com tuberculose. Confesso não foi fácil, entrar em nossa casa “sozinho”. Fui recordando das maluquices de Meimei, antevendo aquela situação de profunda melancolia e de solidão inarredável que passou a fazer parte dos meus dias.
Então o mundo espiritual iniciou uma intervenção maravilhosa em minha vida.
Um temporal levou-me à casa do mano, no 11º dia do desencarne de Meimei. Quando entrei, ensopado, deparei com um grupo de pessoas à mesa, então pensei: “Ih! Eles vão fazer uma sessão espírita!”. Entre os participantes, uma velha amiga da família, Eny Fassanelo. Costumo brincar: Era uma senhora italiana “mais enrugada que um maracujá”. Pronunciava um português “macarrônico”.
Então apagaram a luz. Eram quatro pessoas de um lado, quatro do outro, o mano em uma cabeceira e D. Eny na outra. Então fiquei sem ter como sair. Colocaram-me na ponta da mesa, perto da médium.
Após alguns minutos teve início o transe mediúnico, através de D. Eny. Confesso que nos 50 anos de espiritismo e de reuniões mediúnicas, nem com o Chico presenciei um fenômeno de transfiguração tão exuberante como o dessa noite! O rosto enrugado aos poucos foi ficando lisinho, com aparência de 20 anos de idade, um maracujá verdinho. O Espírito tira o casaquinho da mesma maneira que Meimei fazia. Depois inicia a fala pronunciando ‘rialmente’, palavra que Meimei dizia com dificuldade. A frase dita foi: ‘rialmente o meu Sozinho não vai entender’.
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Neste ponto Arnaldo, pausadamente, explica o porquê do apelido de Sozinho: como ela dizia que a avó viria buscá-la, sabia que ele iria ficar “sozinho”. Relata, muito rapidamente, os outros fatos da reunião desse dia e de uma outra reunião que aconteceu no mesmo horário com a coordenação do Dr. Camilo Chaves, relatos que vieram corroborar a autenticidade do fenômeno e o início da sua conversão ao Espiritismo.
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Com um cativante sorriso, ele conta o seu inesquecível encontro com Chico Xavier.
“Subia a Avenida Santos Dumont, em Belo Horizonte e, para desviar de duas senhoras, esbarrei no Chico. Quase joguei o jovem médium e os seus pertences no chão. Ao desculpar-me entregando a pasta para Chico, este passa a mão em meu rosto, em minha cabeça (aí eu pensei: “Mas que intimidade é esta? Ele nem me conhece!” – e a platéia ri). Chico coloca a mão no meu ombro, aperta-o (um gesto comum do futuro amigo) e pediu a foto ‘da nossa princesa’ que eu guardava na carteira. Chico disse: ‘Naldinho, não é assim que Meimei lhe chamava? Ela está aqui.’ Amigos, eu fiquei estuporado, diante do inexplicável, por não conhecer a mediunidade da clarividência.”
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O contador de Histórias dá uma parada, bebe um pouco de água. Reinicia as recordações, inserindo o seu grande amigo Francisco Cândido Xavier, em suas narrativas.
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“O silencioso apóstolo do bem, que viveu possivelmente os momentos mais grandiosos da mediunidade apostolar do venerando missionário 1”
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Arnaldo projeta a alma dos espectadores para a antiga estrada que ligava Belo Horizonte aos rincões de Pedro Leopoldo.
“Em 1946 gastávamos, afirmou, duas longas e empoeiradas horas para alcançar o destino. Foram momentos de rara beleza em minha vida. Conhecer a família Xavier e os companheiros da cidade. Conviver com o grupo, que hoje sinto ser dos eternos amigos! Quantas saudades! Estudávamos Doutrina Espírita até nos momentos de descontração.
Jamais me esquecerei do Chico, desfraldando-nos a bandeira do conhecimento, com a sabedoria e a alegria dos verdadeiros discípulos do Cristo.
Com Chico, aprendi a ser uma pessoa melhor. Eu fumava muito: dois maços de cigarro por dia e também cachimbo; tinha 23 unidades! Era uma dificuldade limpar aquilo tudo! Por respeito, saía de perto do Chico para fumar. O Chico dizia: “Pode entrar, Naldinho. O fumo até que cheira bem.” E cheirava bem, mesmo!
Foi muito difícil lidar com algumas questões pessoais. Certa feita, trabalhando como passista, junto ao Jair Soares, pelo fenômeno de voz direta o José Grosso veio falar comigo. Imaginem, aquela voz de trovão do Zé! “Arnaldo, você está dispensado de dar passes. É muito difícil tirar essa nicotina sua!” E, assim,fui “excluído” da tarefa de passista.”
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Como se estivesse em um templo de Delfos, na Grécia Antiga, Arnaldo fala sob a inspiração dos deuses sobre a lealdade de Chico aos Espíritos, seu comprometimento com o estudo das obras de Allan Kardec e a sua veneração a Emmanuel, seu pai espiritual de muitas encarnações.
Conta que sua conversão ao Espiritismo, já que antes de se deparar com o mundo espiritual era ateu e materialista, não se deu pela fenomenologia autêntica de Chico Xavier, mas pelo caráter moral e a seriedade com que o médium abrilhantava a própria vida, pacata e rica de fraternidade.
Alegra o público apresentando situações inusitadas da intimidade da família do Sr. João Cândido Xavier, as tiradas engraçadas de Chico e as brincadeiras na cozinha com Dorinha, Cidália e Lucila, irmãs do seu querido amigo.
Concluiu essas lembranças, divulgando o seu apelido na família Xavier: “arroz doce”. Explicou que essa modalidade de sobremesa é comum no interior de Minas Gerais. Tendo se tornado assíduo freqüentador da casa da família, ganhou esse apelido das irmãs de Chico.
Citou nomes e casos dos amigos da primeira hora: Clovis Tavares, Enio Santos, Professor Cícero Pereira, Wallace Leal Rodrigues, Newton Boechat, Joffre Lellis, Lindolfo Ferreira, Zeca Machado, Efigênio Vítor, Dr. Camilo Chaves e outros que o tempo não permitiu enfileirar. Afirmou: “Era uma chuva de bênçãos em nossos encontros”.
Em uma das partes mais ricas em emoções, citou as reuniões de materialização. Falou da visita do Alferes Xavier, da sua mãe Maria José Ramalho, de Scheilla, de Zé Grosso, de Joseph Gleber, de Emmanuel, de Nina Arueira e de outros. Mas ao se lembrar da materialização de Meimei, as lágrimas do contador de histórias deslizaram pela sua face num misto de saudade e agradecimento.
Ele discorreu sobre a marcante presença da ex-esposa que, em parceria com Chico Xavier, formou uma verdadeira ponte de luz que soergueu um Lázaro inconformado, amotinado, em um jazigo sem esperança. Essa foi a época das missivas que ligavam os céus dos vivos à terra apaixonada dos mortos.
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No futuro, encontrar-nos-emos em Blandina!
‘Arnaldo disse, ainda, que a narrativa dos capítulos 60 e 61 de “Entre a Terra e o Céu” é o relato de André Luiz sobre uma escola de evangelização e que a Blandina citada é a própria Meimei, que o autor espiritual preferiu nominar por uma de suas anteriores reencarnações, na antiga Gália Lugdunense. Ela é personagem do romance de Emmanuel, “Ave, Cristo!”
Na referida obra, comentou: “Há um diálogo entre os personagens Taciano Varro (Arnaldo Rocha) e Lívia (Chico Xavier), onde as notas do Evangelho sublimam as aspirações humanas. Lívia consola Taciano, afirmando “no futuro encontrar-nos-emos em Blandina 2 ”. Essa profecia se realizou mais ou menos 1600 anos depois, na Avenida Santos Dumont, em Belo Horizonte, no esbarrão em Chico Xavier, anteriormente narrado.
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Quando o tempo indicava a necessidade do término, nosso companheiro concluiu a narrativa mais ou menos nesses termos:
“Meus amigos: foram 59 anos de muitas lutas pela Doutrina e comigo mesmo, pois o meu passado foi colocado na mesa pelos Benfeitores Espirituais para que eu pudesse realizar algo de concreto. Por isso evitei o púlpito, os retratos e a fama, apoiado em uma obra que não foi edificada por mim. Já errei demais para recalcitrar nos aguilhões que maceram minh’alma.
Ter convivido na intimidade de Chico Xavier, com as revelações do passado, tendo em Emmanuel o nosso orientador, muito me ajudou, por isso, sinto-me na responsabilidade de alertar os mais jovens, e os demais confrades do Movimento Espírita, para evitarmos as ervas daninhas que amotinam contra o trigo das virtudes que ansiamos.
Sempre evitei falar do convívio com Chico, para não ficar parecendo que eu era mais importante do que os corações que sonhavam e não podiam, por força das circunstâncias, estar ao seu lado, dormir em sua casa, tomar lanches na madrugada, após as reuniões no Grupo Meimei, e amanhecer aprendendo Doutrina Espírita.
Quando falo em circunstâncias, expresso um pensamento muito diferente das falas vaidosas que sublinham a palavra, que não sei ao certo o seu significado, ´merecimento`.
Nossa alma querida foi escolhida e preparada para exercer o trabalho na Doutrina por suas vastas aquisições espirituais, resultando em um verdadeiro mandato com Jesus. De nossa parte, apenas seguíamos, timidamente, os seus passos.
Nas conversas com o Chico e através da psicofonia, passamos a ter notícias das reencarnações de Chico, desde os tempos de Hatshepsut, farani ou faraó, no Egito, até o século XIX em Barcelona. Em todos os seus passos, Chico perpassou pelas veredas em corpos femininos e as diversas fases reveladas nos autorizam a afirmar que o preparo da sua atual reencarnação foi muito longo.
Enfim, esse é o momento, para a comunidade espírita analisar, profundamente, à luz do Consolador Prometido, o seu mandato e o perfil psicológico de trabalhador, para transcender a periferia da sua esplêndida mediunidade, e adentrar na essência do Evangelho que ele viveu.
O ser humano, Chico Xavier, a misericórdia de Deus me apresentou. Seus conflitos de jovem, suas dúvidas como médium; seus martírios para vencer a própria vaidade. Presenciei suas dores físicas e espirituais. Alertei-o nos momentos em que ele esteve para ser passado para traz. Presenciei seus êxtases e o seu silêncio. Carreguei Chico, pálido e suado após reuniões de materialização. Cantei com ele. Chorei ao seu lado. Brincamos junto de tantos amigos. Aprendi a orar com ele e hoje não esqueço de orar por ele, como sei que ele o faz por mim, que sou mais necessitado.
Chico apresentava tanta humilde que me surpreendia. Mesmo quando estávamos a sós, ele vez por outra afirmava: ‘O Espírito de fulano está alertando…’ Ele poderia assumir, como suas, observações que eram de outros. Mas não abria mão de declinar o nome do verdadeiro autor.
Ele nos mostrou que a Doutrina necessita ser dignificada por todos nós, os médiuns e os dirigentes. Essa é a missão. A tarefa é difícil, sabemos, mas não impossível. Confiemos.”
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O coordenador dos livros “Instruções Psicofônicas” e “Vozes do Grande Além” despede-se com uma mensagem de esperança.
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“Se Deus permitir, antes de partir para o mundo espiritual deixarei para a família espírita mais alguns aspectos da trajetória espiritual de Francisco Cândido Xavier, que ficaram guardados sob os escombros do tempo, na estante empoeirada da vida.”
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Agradeceu, pediu desculpas pela demora, desejou bênçãos a todos, pegou seus livros e guardou-os em sua sacolinha de plástico.
Assentou-se, humildemente, e abaixou a cabeça para orar, como Chico lhe ensinara.
Colaboração: Carlos Alberto Braga Costa
1 – Jornal Espírita Mineiro – Maio/Junho 2005 – Nº 295 – Trecho da Exposição de Divaldo P Franco
2 – EMMANUEL (Espírito). Ave, Cristo!. In: capítulo Sonhos e Aflições. (psicografia de Francisco Cândido Xavier), pelo espírito de Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB.

CONVERSANDO COM ARNALDO ROCHA SOBRE CHICO

Em um preito de amor, carinho e sentimento de gratidão, ante estes dois anos de desencarnação de Chico Xavier – fiel trabalhador do Evangelho na Seara Espírita – que se completam no próximo dia 30 de Junho, o Espírita Mineiro entrevista um de seus mais íntimos e fiéis amigos dos primeiros tempos: Arnaldo Rocha – Conselheiro da União Espírita Mineira e cooperador assíduo de suas reuniões e atividades doutrinárias. Aos oitenta e dois anos, guarda vivo na memória um rico acervo de recordações de sua longa e fraterna convivência com a inesquecível “Alma Querida” de Pedro Leopoldo, algumas delas aqui expostas nesta entrevista.
1)     EM – Arnaldo Rocha, grande parte dos espíritas sabe de sua amizade com Francisco Cândido Xavier, por isso gostaríamos de iniciar nossa entrevista pedindo a você que narre o seu primeiro encontro com o médium de Pedro Leopoldo.
AR – Foi na tarde de 22 de Outubro de 1946, exatamente 21 dias após o desencarne de Irma de Castro, nossa querida Meimei. Subindo a Av. Santos Dumont, em BH, esbarrei fortuitamente em um moço simples que caminhava em sentido contrário, derrubei os seus pertences e quase o joguei no chão. Após recolher os objetos espalhados, pedi-lhe desculpas. Foi quando o reconheci, já que acabara de ler uma reportagem da revista “O Cruzeiro” a respeito do médium de Pedro Leopoldo. Fiquei tão emocionado, diante daquele moço, que meu coração dizia já conhecê-lo de algum lugar. Chico me olhou com ternura e pronunciou uma frase que um recém-viúvo jamais poderia esquecer: “Escuta, Naldinho” — não é assim que Meimei lhe falava? Ela está aqui concosco, radiante de alegria pelos seus 24 janeiros, ou melhor, ela diz 24 primaveras de amor! Hoje não é o dia do aniversário da Meimei? Deixa-me ver o retrato dela que você traz na carteira”. Fiquei estupefato, eram detalhes que só nós dois – eu e minha falecida esposa – sabíamos. Foi assim que se iniciou nossa grande amizade.
2)     EM – Nos idos dos anos cinqüenta, você, o Clóvis Tavares, o Wallace Leal V. Rodrigues, José Gonçalves Pereira, Joaquim Alves (Jô), e o Ênio Santos formavam um grupo seleto de amigos íntimos do médium. Sabe-se, inclusive, que Chico sempre os convidava para preces e diálogos reservados, no seio da natureza, como por exemplo no açude de Pedro Leopoldo (onde pela primeira vez Chico vira o benfeitor Emmanuel). Como eram esses encontros e o que geralmente ocorria neles?
AR – Nossos diálogos sempre foram pautadas no espírito de amizade, lealdade, alegria e constante aprendizado. Conversávamos sobre diversos assuntos, desde ciência, política, história, religiões e principalmente sobre nossa querida Doutrina Espírita, tendo como encaminhamento final do assunto o Evangelho de Jesus. Nesses encontros, a presença dos benfeitores espirituais era marcante. O que mais me impressionava eram as observações e orientações dos mesmos, acerca dos assuntos nos quais nossas limitações impediam mais altos vôos. Assim, quando o assunto, por exemplo, era história, ao final dos diálogos, os amigos espirituais nos apontavam os erros históricos, os ingredientes que oferecem sentido às incongruências. Havia ocasiões em que traziam narrativas que os homens encarnados desconhecem. Tenho muitas saudades dos momentos vividos junto àqueles amigos, especialmente o Chico por peça principal e aglutinadora.
3)     EM – A facilidade e a segurança com que o inesquecível médium mineiro entrava em relação com o Mundo Espiritual, sobretudo com suas vivências passadas, e ainda com o passado das pessoas que o cercavam, é um fato. Como ele administrava essas prerrogativas mediúnicas, e com quem partilhava essas reminiscências e revelações?
AR – A mediunidade do Chico pode ser classificada em diversos ciclos. Em nossa época, ela foi marcada pelas revelações do passado, em razão dele estar psicografando os romances de Emmanuel, e os livros de André Luiz. É interessante observar como as transições na vida do Chico ofereciam-lhe oportunidade de conviver exatamente com os companheiros que fizeram parte dos seus dramas no passado. Com isso, as irradiações específicas emanadas por estes amigos lhe auxiliavam, de alguma sorte, na aproximação de entidades espirituais, bem como na abertura de painéis psíquicos, com suas respectivas reminiscências.  Dentre estes companheiros, o médium recebeu verdadeiros pais, educadores, irmãos, como também aqueles que expressavam muitas dificuldades. Dentre os benfeitores citados, não posso deixar de citar o Dr. Rômulo Joviano, José Xavier, Cícero Pereira, Rubens Romanelli, o nosso querido Ênio Santos, e muitos outros que a memória não nos auxilia a citar neste instante. Por nossa vez, em companhia de Clóvis Tavares, Wallace Leal, José Gonçalves Pereira e Joaquim Alves (Jô), travamos luminosos diálogos com o médium, que enfeixavam revelações do passado espiritual de todos nós, inclusive o dele próprio, nosso Chico. Ele nos apresentava seus conflitos pessoais, os seus sonhos, e não escondia suas limitações. Havia uma unanimidade entre nós, nossas vidas eram transformadas, em função das benesses recebidas.
4)     EM – Foi você quem, pela primeira vez, levou o tribuno Divaldo Franco a Pedro Leopoldo. Como era a relação dos dois medianeiros da Espiritualidade Maior? Há algum fato marcante desses encontros que você queira nos contar?
AR – Agradeço muito a Deus por ter vivido aquele momento. Foi uma oportunidade marcante o primeiro encontro com Divaldo em Pedro Leopoldo. Após nossas atividades doutrinárias, ficamos nós dois hospedados na casa de Luiza (irmã do Chico). Nessa noite ficamos até às 4 horas da madrugada conversando. Chico estava tão alegre com a presença fraterna do Divaldo que, especificamente naquela noite, confidenciou muitas revelações de seu passado espiritual ao orador baiano — revelações que normalmente ficavam restritas ao nosso convívio íntimo, como por exemplo suas experiências vivenciadas na Espanha do século XVI, no reinado de Fernando e Isabel, os reis católicos. A amizade entre os dois servidores do Espiritismo era pura manifestação de confiança e amizade entre eles. O Divaldo nunca deixou de reconhecer o trabalho missionário de Chico, e nossa Alma Querida sempre incentivou a tarefa nada fácil do reconhecido orador e médium baiano.
5)     EM – Foi por uma sugestão especial do próprio Chico que você se vinculou ao quadro de servidores da União Espírita Mineira? Você poderia nos contar quando e como isso aconteceu?
AR – Na realidade foi o Dr. Camilo Rodrigues Chaves quem me convidou para fazer parte do quadro de trabalhadores da UEM, mas não posso deixar de registrar o apoio constante do Chico, que sempre me falava dos compromissos que eu tinha com essa querida Casa, que tem a missão de unir, em torno do Evangelho, os espíritas das Gerais.
6)     EM – Após a mudança do Chico para Uberaba, você continuou a visitá-lo e a se corresponder com ele?
AR – Visitava-o sempre que o tempo me permitia, mas freqüentemente nos falávamos por telefone, além da constante troca de correspondências.
7)     EM – Durante toda a sua existência, o iluminado médium de Pedro Leopoldo apoiou, com declarado carinho, o trabalho da Federativa de Minas (UEM). Como explicar esse respeito dele, bem como sua assistência contínua à União Espírita Mineira?
AR – A UEM é a Casa Máter do Espiritismo em Minas Gerais, por isso, sempre que convidado, Chico Xavier nos brindava com sua presença, e ele sempre ressaltava que a unificação dos espíritas deve começar pela união dos corações. Quando nosso Chico iniciou seu trabalho mediúnico, a União o apoiou incondicionalmente, a partir da gestão do inesquecível professor Cícero Pereira. Chico o amava de coração, tanto quanto à sua esposa, dona Guiomar, que o tinham por verdadeiro filho. Aí se sedimentou a reverência e o carinho de Chico para com a UEM, que se estendeu pelas gestões de Dr. Camilo Chaves, Dr. Bady e de nossa Neném Aluotto, até os nossos dias.
8)     EM – Tendo convivido tão intimamente com o Chico, e tendo dirigido, por tantos anos, em sessões íntimas, sua exuberante e evangelizada mediunidade, o que você recomendaria aos novos médiuns com relação ao trabalho e à divulgação da Doutrina Espírita?
AR – Cito uma frase do companheiro Deolindo Amorim, o qual aprendi a respeitar através da mediunidade do Chico, esperando que nossos irmãos médiuns reflitam em tão importante ensinamento: “Na minha última encarnação — dizia ele já desencarnado em nossas reuniões mediúnicas —, o Evangelho foi o livro de minha vida”. Complementando, de minha parte, digo que sigam o exemplo do Chico. Depois do primeiro contato com Emmanuel em 1931, o devotado médium seguiu-lhe, até os últimos instantes de sua vida, as três recomendações básicas ditadas pelo Senador: Disciplina, Disciplina, Disciplina. O médium necessita de simplicidade – foi o que Chico demonstrou na manjedoura de sua vida; necessita de humildade. Chico apagou-se o tempo todo para que os Espíritos falassem, além de ter delegado a pessoas idôneas e conhecedoras de Doutrina Espírita a tarefa de auxiliá-lo na avaliação das obras psicografadas; necessita de amor – Jesus nos ensina a conjugar o verbo amar quando diz: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei. A vida do Chico foi um mandato de amor.
9)     EM – Arnaldo, como confidente de inúmeras revelações do querido missionário, o que você poderia nos dizer sobre os romances históricos de Emmanuel – são, de fato, alguns deles, trechos da história evolutiva de Emmanuel e do próprio Chico?
AR – Sem dúvida. Emmanuel, nos seus romances, nos oferece um grande exemplo de amor, luta e verdadeiras transformações. Desde Públio Lentulus Sura e Públio Lentulus Cornélio (Há Dois Mil Anos), Nestório (Cinqüenta Anos Depois), Basílio (Ave, Cristo!), Padre Manuel da Nóbrega, e o Padre Damiano (Renúncia), encontramos muitas personalidades marcantes em busca da evolução consciente. E o nosso Chico sempre esteve caminhando com Emmanuel. Quem não se lembra da sua filha Flávia, em Há Dois Mil Anos…?
10)  EM – Algumas dessas suas experiências ao lado do médium  incomparável, bem como as revelações que você ouviu dele próprio, ao que se sabe, estão sendo anotadas por um amigo e companheiro de tarefas da UEM. Esse material será publicado em livro, em favor das novas gerações espíritas?
AR – Há quase dois anos que nossa “Alma Querida” desencarnou. Desde então, o companheiro citado nos procurou com o intuito de anotar essas recordações de nossas vivências junto ao médium. No início ficamos ressabiados, mas com o passar do tempo, em que o trabalho foi sendo desenvolvido sem nenhuma pretensão, verificávamos que, mais que um livro, estávamos reeditando uma grande amizade, com preciosos ensinamentos cristãos. Assim, os diálogos foram se transformando em recordações inestimáveis, capazes de traduzir ao coração dos novos espíritas o que foi a inesquecível Pedro Leopoldo de algumas décadas da primeira metade do século XX, quando se reuniam os “Amigos para Sempre”.
11) EM – Qual mensagem você deixaria para os espíritas, com base no seu trabalho e vivência ao lado desse extraordinário apóstolo do Espiritismo, eleito o mineiro mais importante do século XX, em votação popular?
AR – Não me sinto digno de oferecer uma mensagem, já que a busco para o meu próprio coração renitente e devedor. O que posso fazer, sem nenhuma pretensão, são algumas observações, que a vivência junto ao Chico me autoriza. Se estudarmos sua vida, sem pieguismo ou idolatria, encontraremos lições que podem nos auxiliar a nos aproximar daqueles espíritos benfeitores, dos quais Chico foi fiel instrumento, e com isso, transformar nossos ideais em obras concretas. Emmanuel nos ofereceu uma página de luz que deve ser o roteiro de todos nós espíritas, que está contida no livro “Religião dos Espíritos”, com o título Doutrina Espírita. Tenho para mim que precisamos dignificar o Espiritismo, nos dignificando. Finalizo minhas insignificantes palavras rendendo um preito de amor, carinho e um profundo sentimento de gratidão a Chico Xavier. Sinto que, se ele estivesse aqui e nos oferecesse um óbulo para nossas observações, transferiria essa homenagem a todos os amigos de Doutrina, para, juntos, buscarmos Nosso Senhor Jesus Cristo, em Espírito e Verdade. E para transferir o muito que recebemos aos nossos irmãos espíritas, reproduzimos a letra da música que Quinto Varro, como Corvino, na obra “Ave, Cristo!” ensinou às crianças para cantarem em saudação a Taciano — letra musical que Chico me ensinou a ter como roteiro de vida:
“Companheiro, companheiro!
Na senda que te conduz,
Que o Céu te conceda à vida
As bênçãos da Eterna Luz!…
Companheiro, companheiro!
Recebe por saudação
Nossas flores de alegria
No vaso do coração.”
Fonte: Espírita Mineiro – UEM

O “ESPÍRITA MINEIRO” ACOMPANHA ARNALDO ROCHA EM VISITA A PEDRO LEOPOLDO


Tendo sido gentilmente convidada a União Espírita Mineira se fez presente na primeira “Semana Espírita Chico Xavier”, organizada pela Aliança Municipal Espírita em parceria com a Prefeitura Municipal de Pedro Leopoldo, que objetivou oferecer um preito de amor e gratidão ao lídimo representante da Doutrina Espírita, seu filho ilustre Francisco Candido Xavier, “O Mineiro do Século”.
Dentre os representantes da UEM, destaca-se a presença de sua Diretoria e da figura singular de seu membro e conselheiro Arnaldo Rocha, o amigo íntimo de Chico Xavier, que realizou uma visita inesquecível a saudosa Pedro Leopoldo.
Através de encontros fraternos com os velhos amigos, o passado aflorou em memória, e a equipe do Espírita Mineiro brinda ao leitor amigo registrando esses singelos momentos, através de uma entrevista.
EM . Arnaldo como é a emoção e retornar a Pedro Leopoldo, berço da simplicidade da família de Chico Xavier?
AR. É muito grande. A primeira vez que vim a P.Leopoldo foi a convite de Chico Xavier. Recordo-me, como se fosse hoje, quando descemos na estação de trem em um fim de tarde de outono. O céu estava claro e os raios dourados do sol emolduravam as nuvens poetizando assim um belo por do sol. Voltei para a nossa Alma Querida e disse: “As nuvens tomam o formato do nosso campo mental. Ao meu ver, parece uma coroa”. Em seguida olhei nos olhos de Chico, que observando a tela majestosa, completou o meu pensamento com uma pequena frase que só mais tarde compreenderia: “É a coroa da vida.”Quando chegamos, mais tarde, na casa de Chico, fiquei impressionado com a recepção carinhosa e fraterna de seus familiares, especialmente naquele dia, suas irmãs Dora, Cidália e Lucilia, estavam eufóricas. Tomamos leite queimado na panela, onde fora feito anteriormente o famoso angu. Comemos ainda bolo de fubá e pão de queijo, comida típica em Minas Gerais. A noite, quando fomos passear pelas ruas da cidade, Chico confidenciou uma passagem que não havia ainda relatado: “Naldinho, não repare não. Essa alegria contagiante é fruto de um passado distante. Pelo menos em duas ocasiões, você foi pai de minhas atuais irmãs. Os Benfeitores espirituais se reportam ao século XVI e XIX, em um país penissular. É a Coroa da Vida, meu filho,  que nos reúne sempre sob o império do amor.”
EM: No momento em que você chegou de frente ao Luiz Gonzaga, percebemos lágrimas deslizarem por sobre sua face. Você poderia brindar-nos com mais uma história?
AR. As construções e as pessoas induzem a reminiscências de muito valor para o meu pequeno coração. Olhar o Centro Espírita Luiz Gonzaga, me fez recordar a princípio de dois diletos amigos, Rômulo Joviano, antigo patrão de Chico e de seu cunhado Lindolfo Ferreira. Quando estávamos construindo a nova sede, um determinado dia, eu e Chico nos deparamos com uma discussão acalorada entre os dois confrades. Quando eles perceberam a presença de Chico, ficaram envergonhados e cessaram o embate. Nesse instante, Chico lhes disse fraternalmente: “A discussão não é para destruir. Pelo contrário, deverá ser para construir o templo da fé.” Posteriormente Chico me confidenciou: “Eles estão revivendo os tristes momentos da invasão de Tito em Jerusalém, quando os soldados romanos destruíram o grande templo do judeus.Rômulo, fora o senador Pompilo Crasso, amigo de Publios Lentulos, e Lindolfo, o judeu André de Giorias. Essa história, completou Chico, está narrada por Emmanuel no livro Há Dois Mil Anos.”
Nessa casa abençoada, vivemos instantes marcantes de nossa atual encarnação. Foi ali que presenciei as inesquecíveis reuniões de materializações luminosas. Conversamos com o Alferes Xavier, Tiradentes. Abraçamos minha ex-esposa Meimei. Vislumbramos o Espírito de José Grosso sair da parede e responder uma inesquecível pergunta: “Jose Grosso com foi isso?” “Sei lá. Emmanuel mandou e eu fiz.” A fantástica materialização de Emmanuel. Nesse episódio gosto de citar um ponto científico da manifestação espiritual. Chico era baixo e no momento do transe, uma luz começa a projetar o vulto luminoso de dois metros de altura, corpo atlético. Um homem bonito, voz enérgica e doce. Portava uma tocha incandescente a mão. Foi nesse dia que o Senador, proibiu os fenômenos, pois o compromisso do médium era com o livro. Vocês não imaginam como Chico ficava desgastado. Sua roupa ficava ensopada e sua fisionomia era de uma palidez cadavérica.Cheguei a ombrear os passos de Chico até sua casa, tamanho o cansaço.
EM – Arnaldo Rocha, qual era a postura do médium, após os acontecimentos transcendentais através da sua mediunidade evangelizadora?
AR. O que mais impressionava em Chico, não era propriamente o fenômeno, rico em qualidade e autenticidade científica, mas a sua simplicidade e naturalidade no trato com o mundo espiritual.
Citarei uma situação muito especial, vivida por sua família e que eu fui testemunha. Foi o desencarne de sua irmã Neuza. Um mês antes da sua partida, Chico reuniu os irmãos e narrou seu encontro no plano espiritual com Maria João de Deus, sua mãe, e Dona Cidália, sua madrasta. Elas afirmaram que alguém da família iria desencarnar. Foi um espanto geral, pois ninguém estava doente. Alguns dias passaram, ninguém lembrando do aviso, Chico pediu que as irmãs convidassem Neuza, residente na cidade de Sete Lagoas, para um passeio em Pedro Leopoldo. Atendendo o convite, para surpresa dos irmãos, semana seguinte Neuza ficou enferma. Muitas dificuldades sucederam nas semanas seguintes, até a noite que antecedeu o desencarne e que para mim ficará gravada para sempre. Chico reuniu em torno da cama, eu, Lucilia e seu marido Pacheco, para ministrar o passe magnético. Logo que fizemos a prece, a luz foi apagada. Em seguida, senti objetos suaves e úmidos caírem sobre os meus braços. Achei estranho, mas continuei em prece e no passe. Ao termino, a luz foi acesa e o susto foi enorme. Todo o quarto estava repleto de pétalas de rosas de variadas cores. O mais interessante era que todas as pétalas estavam envolvidas pelo orvalho da noite. Lembro-me, ainda, de Neuza dizendo, com lágrimas nos olhos: “Eu vi as flores caindo da luz centrada no teto”.
Todos nós procuramos Chico, em busca de explicações, e ele como sempre fazia, se esquivou dizendo “Agradeçamos o amor de Deus, pois não merecemos tantos presentes.”
Na manhã seguinte nossa companheira partiu para o reino das rosas nos céus.
Após tantos anos eu ainda me pergunto: “Como ele deve ter sofrido! A dor mais doída de Chico sempre foi dor do próximo, e ele estava diante do sofrimento pela partida da sua irmã Neuza. Além disso, foi o instrumento para preparar seus familiares, respeitando o momento de cada um sem causar impactos.
Amigos, o que possa salientar depois de tantos anos de reflexão, é que a alma cândida de Chico estava sempre acima do médium Francisco Cândido Xavier, diga-se de passagem, que foi fiel instrumento dos Espíritos.
Ele foi uma mãe para suas irmãs, na falta de Cidália Batista. Era confidente, orientador e colo nos momentos de aflição. Foi o filho da ternura de seu pai. Esteve presente também na alegria em família. Amigo dos homens e irmão dos que sofrem. Este foi e será sempre o amigo que modificou o meu errante coração.
EM – Arnaldo Rocha, ao longo do trabalho mediúnico de Chico Xavier, foram escritos muitas obras sobre a sua vida. Por se ele um fenômeno inquestionável, muitos trabalhos por certo ainda serão realizados. O que você gostaria de orientar os trabalhos que poderão vir a serem  desenvolvidos?
AR: Como tenho exposto ao longo da minha atual jornada terrena, depois de ter conhecido a Doutrina Espírita, através da nossa alma querida, é que não me sinto em condições de orientar a ninguém, a não ser dignificar a minha vida através da vivência do Evangelho de Jesus.
Como a misericórdia de Deus, me ofereceu a oportunidade de viver na intimidade de Chico, na era luz de Pedro Leopoldo, junto ao grupo de Amigos, no qual se destacava o carinho e a união, lanço uma lição advinda do amor e da energia de Chico Xavier.
Assistia uma reunião na qual Chico psicografava em Uberaba, e durante a mesma, um companheiro de ideal, responsável pela explanação do Evangelho, utilizou do espaço para enaltecer o médium de Pedro Leopoldo. Durante todo o tempo ele foi tão brilhante na mitificação de Chico, que levou o público às lágrimas. Enquanto o fato se desenrolava, observei que o médium, em seu trabalho, passava maus momentos. Lápis quebravam, papeis eram rasgados pela celeridade da psicografia. Ao terminar os trabalhos da noite, registrei a seguinte cena, a distancia, Chico discretamente entrou em uma sala contígua com o expositor da noite. Após alguns minutos, os dois saíram, enquanto Chico veio concluir o trabalho através das suas conhecidas despedidas calorosas o companheiro se retirou cabisbaixo.
Retornando a sós com Chico para sua casa, onde havia me hospedado, logo questionei: “Meu filho, você me conhece, e sabe que não passo em branco, o que aconteceu? Resposta, direta, demonstrando certa tristeza na alma. “Naldinho, são tantos anos de trabalho que não precisamos dizer muito, não é? Não posso admitir que fiquem exaltando uma condição que não atingi e. você conhece bem minha jornada pregressa. Além do mais, missa de corpo presente machuca o coração. Olha, eu ainda não desencarnei. Imagine só, depois que eu partir? Enquanto falam de um tal de Chico, deixam de falar em Jesus Cristo. Por isso, Allan Kardec deve ser estudado por nós espíritas cotidianamente. Ele deixou claro, na Codificação, tudo o que precisamos realizar para que o Nosso Senhor Jesus Cristo seja vivenciado em Espírito e Verdade.
Jamais esquecerei esse ensinamento.
É maravilhosa a obra legada por Chico, principalmente por ter ele vivido em plenitude a essência de tudo que foi instrumento na atual romagem. Um dia, no momento certo, poderemos contar os registros que  jazem guardados nos escombros do tempo.
Por agora,  o caminho é não divinizá-lo. Procurar todos nós, compreender as suas lutas. Aproximar de seus sonhos, vivenciando as obras legadas pelos Espíritos, de caridade, de respeito, e de consciência cristã.
É imprescindível deixar a paixão e as polêmicas e nos unirmos, todos, nos aspectos humanizados de Chico Xavier. Lembrando que foi essa a essência que ele procurou expressar na energia e na candura dos seus atos.
Quando sua segunda mãe, Cidália, estava partindo para o plano espiritual, chamou seu querido filho e lhe disse: “Chico, estou indo embora, para o mundo que tanto ensinastes ao meu pobre coração. Peço a  você que assuma o meu devotado papel, sê a mãe de seus irmãos.”
Esse mandato ele levou até o fim.
Devemos viver a vida com humildade, simplicidade e dignidade, respeitando a condição evolutiva do semelhante e amando-nos uns aos outros como Jesus nos tem amado, e prestar a atenção no mandato que foi depositado em nossas mãos.
Assim seremos ovelhas reunidas por um só pastor.
Despretensiosamente endereço essas narrativas, como um preito de amor a Francisco Candido Xavier, para todos aqueles que venham falar e escrever sobre, nossa alma querida.
Lembremos de Chico Xavier como uma alma cândida, que jamais aceitou qualquer elogio, apenas reconhecimento e amizade.
Por isso ele repetiu uma frase em vários momentos em que fora homenageado:
“Sou igual a um cabide que tem a única função de carregar os prêmios, pois eles estão sendo entregues a Doutrina Espírita e aos seus Lídimos representantes do Mundo Espiritual”.
Fonte: Jornal o Espírita Mineiro

OS PRIVILÉGIOS DE CHICO XAVIER

Resposta de Chico Xavier a um senhor que lhe perguntara, em 1977, durante uma reunião na cidade de São Paulo , se o médium, ao estar completando 50 anos de mediunidade, se considerava uma pessoa privilegiada. O texto está inserido no livro ” Encontros no Tempo”, organizado por Hércio Marcos C. Arantes.

“Meu amigo, eu não sei quais são os meus privilégios perante os Céus, porque fiquei órfão de mãe aos cinco anos de idade, fui entregue à proteção de uma senhora que, durante dois anos, graças a Deus , me favorecia com três surras de vara de marmelo por dia.
Empreguei-me numa fábrica de tecidos, aos oito anos de idade. E nela trabalhei durante quatro anos seguidos, à noite, estudando na escola primária durante o dia. Não podendo continuar na fábrica, empreguei-me como auxiliar de cozinha, balcão e horta, num pequeno empório, durante mais quatro anos. Em seguida, empreguei-me numa repartição do Ministério de Agricultura, na qual trabalhei trinta e dois anos, começando na limpeza da repartição até chegar a escriturário, quando me aposentei.
Em criança, sofri moléstia de pele, fui operado no calcanhar, onde me cresceu um grande tumor; sofri dos doze aos quinze anos de coréia ou “mal de São Guido”;  fui operado em 1951 de uma hérnia estrangulada, acompanhei a desencarnação de irmãos que me eram particularmente quaridos em família; sofri um processo público em 1944, de muitos lances dificeis e amargos , por causa das mensagens do grande escritor Humberto de  Campos; em 1958, passe por escandalosa perseguição com muitos noticiários infelizes da imprensa, perseguição de tal modo intensa, que me obrigaram a sair do campo reconfortante da vida familiar em Pedro Leopoldo, onde nasci, transferindo-me para Uberaba, em 1959, para que houvesse tranquilidade para os meus familiares, que não tinham culpa de eu haver nascido médium; em 1968,  fou internado no Hospital “Santa Helena”, aqui em São Paulo, para ser operado numa cirurgia de muita gravidade, e, agora, no princípio deste ano do cinquantenário de minhas pobres faculdade mediúnicas, agravou se em mim um processo de angina que começou em novembro do ano passado …  angina essa com a qual estou lutando muito.
Se tenho privilégios, como o senhor imagina, devo ter esses privilégios sem saber!”

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