CAPA

CHICO XAVIER
O calvário do senhor dos espíritos
O médium que movimentou R$ 300 milhões com a venda de livros psicografados recupera-se de uma pneumonia e enfrenta a briga entre o filho adotivo e a ex-nora, suspeitos de desvio de doações em benefício próprio
Cecília Maia, de Uberaba (MG)

Sérgio Teixeira/Jornal de Uberaba

Em mais de sete décadas, o lápis deslizou pela folha em branco. Hoje, a caneta não é mais um dos seus instrumentos de trabalho. Francisco Cândido Xavier, ou Chico Xavier, o mais célebre e reverenciado médium espírita do Brasil, já não repete mais o ritual de pôr a mão esquerda sobre a testa, fechar os olhos, se concentrar. Sua mão direita não acompanha mais a velocidade de informações em que os espíritos, como dizia, lhe ditavam mensagens.
Aos 91 anos, 74 dos quais dedicados a confortar as pessoas que o procuravam com recados de mortos anônimos ou famosos como Castro Alves e Marilyn Monroe, Chico Xavier passa a maior parte do dia em sua cama, numa pequena casa com dois quartos, sala e cozinha, na rua Pedro I, no bairro Parque das Américas, em Uberaba, Minas Gerais. Além da idade avançada, ele tem apenas 30% da audição, está cego de um olho e com o corpo enfraquecido. “Ele apresenta problemas comuns a um idoso”, diz Eurípedes Tahan Vieira, 65 anos, médico e amigo do médium há 25 anos. “Mas estou surpreso com a melhora tão rápida”, ressalta. Chico Xavier deve ter alta do hospital até sábado 7.

Vicente Grecco/Felipe Barra
Eurípedes, filho adotivo de Chico Xavier, e a sua ex-nora, Christine

Quarta-feira 27, o líder espiritual foi internado no Hospital Hélio Angotti, com pneumonia nos dois pulmões. Teve febres-relâmpago e ficou sob fortes medicamentos para combater o mal. Agora, houve melhora de 75% do seu quadro, se alimenta com sopas e iogurtes. Tem falado pouco. E quando se arrisca, sussurra algumas sílabas. Tem feito fisioterapia nas pernas, além de massagens no peito para eliminar secreções dos pulmões. “Seu espírito ainda é forte. Mas o corpo está fraco”, afirma Carlos Baccelli, 48 anos, médium e coordenador do Lar Espírita Pedro e Paulo, em Uberaba, e amigo há mais de 30 anos.
É a quarta vez nos últimos cinco anos que o cidadão de nascimento em Pedro Leopoldo, município mineiro, enfrenta a doença. Há pouco menos de uma década, ele sofreu de angina, labirintite e enfrentou três crises de pneumonia em apenas um ano. Por conta da debilidade do seu organismo, o médium passou a ter a voz praticamente inaudível. Nunca, porém, ficou tanto tempo internado. “Tudo começou com uma gripe que evoluiu para pneumonia dupla”, afirmou o médico Eurípedes. “Ele estava apresentando febre de 39,5 graus e por isso achei que deveria ficar 24 horas sob cuidados médicos.”
Em conseqüência dos problemas de saúde, Chico Xavier afastou-se do cotidiano religioso. Sua rotina se restringiu a acordar cedo e se alimentar com chá e torradas, ter ajuda de uma cozinheira para se vestir e se sentar em uma cadeira na sala de casa. Lá, passa o dia e parte da noite. A leitura dos jornais consome quase todo o dia por causa da dificuldade de visão.

Alan Rodriguez Piti Reali Piti Reali   Nair Bello “Para mim ele é um santo. Já distribuí 13 mil cópias da carta psicografada de 90 folhas do meu filho, morto num acidente. Havia detalhes dele que só eu sabia”   Antonio Fagundes O ator acompanhou a colega de novela Cássia Kiss no aniversário de 90 anos de Chico, em abril de 2000 Fernando Collor O então presidente visitou o médium acamado por uma pneumonia em 1991