quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Infância
Francisco Cândido Xavier nasceu em Pedro Leopoldo (MG), no dia 2 de abril de 1910.
Filho de operário inculto e de humilde lavadeira, ficou órfão de mãe aos cinco anos de idade.
Seu pai se viu obrigado a entregar alguns dos seus nove filhos aos cuidados de pessoas amigas e Chico Xavier ficou com sua madrinha, mulher nervosa que o maltratava cruelmente.
Nos seus momentos de angústia, um anjo de Deus, que fora sua mãe na Terra, o assistia, quando, desarvorado, orava nos fundos do quintal:
"Tenha paciência, meu filho! Você precisa crescer mais forte para o trabalho. E quem não sofre não aprende a lutar".
O menino aprendeu a apanhar calado, sem chorar.
Diariamente, à tarde, com vergões na pele e o sangue a correr-lhe em delgados filetes pelo ventre, ele, de olhos enxutos e brilhantes, se dirigia para o quintal, a fim de reencontrar a mãezinha querida, vendo-a e ouvindo-a, depois da oração.
Algum tempo depois, terminou seu martírio.
Seu pai casou-se novamente e sua madrasta, alma boa e caridosa, o recolheu carinhosamente, a ele e a todos os irmãos que estavam espalhados.
A situação era difícil.
A guerra acabara e graçava a gripe espanhola.
O salário do chefe da família dava escassamente para o necessário e os meninos precisavam estudar.
Foi então que a boa madrasta teve uma idéia: plantar uma horta e vender os legumes.
Em algumas semanas, o menino já estava na rua com o cesto de verduras. Desta forma, conseguiram encher o cofre e voltar a frequentar as aulas.
Em janeiro de 1919, Chico Xavier começou o ABC.
Com a saída do chefe da casa para o trabalho e das crianças para a escola, a madrasta era obrigada, algumas vezes, a deixar a casa a sós, pois precisava buscar lenha à distância.
Foi, então, que surgiu um problema: a vizinha, se aproveitando da ausência de todos, passou a colher a verduras e, sem verduras, não haveria dinheiro para as despesas da escola.
Preocupada, a madrasta, não querendo ofender a amiga, pediu a Chico Xavier que pedisse um conselho ao espírito de sua mãe.
À tardinha, o menino foi ao quintal e rezou como fazia sempre que queria conversar com sua mãe e lhe contou o problema. Sua mãe lhe disse que realmente não deviam brigar com os vizinhos e lhe deu uma sugestão: toda vez que sua madrasta se ausentasse, que desse a chave de casa à vizinha, para que ela tomasse conta da casa.
Dessa forma, a vizinha, responsável pela casa, não tocou mais nas hortaliças.
Passados todos esses problemas, o menino não viu sua genitora com tanta frequência.
Mas passou a ter sonhos.
À noite, levantava-se agitado e conversava com locutores invisíveis. De manhã, contava as peripécias de pessoas mortas, coisas que ninguém podia compreender!
O pai resolveu levá-lo ao vigário de Matozinhos que, após ouvi-lo, recomendou que o garoto não lesse mais jornais, revistas, livros.
Disse-lhe que ninguém volta a conversar depois da morte e que era o demônio que lhe estava perturbando.
O menino chorava nos braços de sua madrasta, criatura piedosa e compreensiva.
Ao conversar com sua mãe, triste por não ser compreendido por ninguém, escutou dela que precisava modificar seus pensamentos, que não deveria ser uma criança indisciplinada, para não ganhar antipatia dos outros.
Deveria aprender a se calar e que, quando se lembrasse de alguma lição ou experiência recebidas em sonho, que ficasse em silêncio. Precisava aprender a obediência para que Deus, um dia, lhe concedesse a confiança dos outros.
E durante 7 anos consecutivos, de 1920 a 1927, ele não teve mais qualquer contato com sua mãe. Integrado na comunidade católica, obedecia às obrigações que lhe eram indicadas pela Igreja. Confessava-se, comungava, comparecia pontualmente à missa e acompanhava as procissões. Em 1923 terminou o curso primário, no Grupo.
Levantava-se às seis da manhã para começar, às sete, as tarefas escolares e entrando para o serviço da fábrica às três da tarde, para sair às onze da noite.
Em 1925 deixou a fábrica, empregando-se na venda do Sr. José Felizardo Sobrinho, onde o trabalho ia das 6h30 às 20h.
As perturbações noturnas continuaram.
Depois de dormir, caía em transe profundo.
Em 1927, uma de suas irmãs caiu doente.
Um casal de espíritas, reunido com familiares da doente, realizaram a primeira sessão espírita que teve lugar na casa.
Na mesa, dois livros: "O Evangelho Segundo o Espiritismo" e o "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec.
Pela mediunidade de D. Carmem, sua mãe manifestou-se: "Meu filho, eis que nos achamos juntos novamente. Os livros à nossa frente são dois tesouros de luz. Estude-os, cumpra com seus deveres e, em breve, a bondade divina nos permitirá mostrar a você seus novos caminhos. "
A primeira e única professora de Chico que descobriu sua mediunidade psicográfica foi D. Rosália. Fazia passeios campestres com os alunos que deveriam, no dia seguinte, levar-lhe uma composição, descrevendo o passeio. A de Chico tirava sempre o primeiro lugar.
Desconfiada, D. Rosália, um dia, fez o passeio mais cedo e, na volta, pediu que os alunos fizessem a composição em sua presença. Chico, novamente, tira o primeiro lugar, escrevendo uma verdadeira página literária sobre o amanhecer e daí tirando conclusões evangélicas.
Rosália mostrou aos amigos íntimos a composição e todos foram unânimes em reconhecer que aquilo, se não fora copiado, era então dos espíritos.
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